Caros
leitores!
Após um período de férias deste
blog, venho para o primeiro post de 2022 tratar da temática musical,
apresentando um pouco mais do universo do Eurovision e da música portuguesa
contemporânea, a qual me tornei um grande fã, especialmente de dois anos atrás até
os tempos atuais.
Primeiro falarei rapidamente
sobre o 'Eurovision Song Contest' (em Portugal chamado Festival Eurovisão da
Canção), que apesar de ser pouco conhecido no Brasil, é um concurso que
acontece desde 1956 na Europa, sendo o segundo mais antigo no continente. O
concurso reúne diversos participantes de países europeus, e atualmente também Austrália e Israel, o que traz por consequência um concurso onde podemos observar
diversas manifestações culturais, seja de ritmos mundialmente conhecidos como o
Pop e o Rock, até estilos musicais locais, como o Fado de Portugal que se fez
presente em algumas das edições do festival.
O festival costuma acontecer no
mês de maio e tem como sede o país no qual o campeão do ano anterior foi
representado. Por exemplo, em 2021, tivemos como vencedores a banda de rock
italiana Maneskin com a música Zitti e Buoni, o que significa que neste ano de
2022, uma das principais cidades italianas, Turim, sediará o evento entre os
dias 10 e 14 de maio.
O concurso é dividido em duas
semi-finais e a grande final. Para a final do concurso, países como Espanha,
França, Itália, Grã-Bretanha e Alemanha já estão automaticamente classificados
(além do país sede), e as duas semis reúnem os demais países. Neste ano, serão
18 participantes em cada semi-final e os 10 primeiros passam automaticamente
para a final.
Vale lembrar que o vencedor do
concurso é escolhido em duas etapas, a primeira delas se constitui em um corpo
de jurados de cada país que atribui de 1 a 12 pontos para as dez canções preferidas,
com exceção da música que representa o próprio país votante. Este processo
constitui metade da pontuação final de cada representante, sendo a outra metade
responsável pelo voto popular, na qual a quantidade de pontos é uma
representação proporcional de votos que o país recebeu em todo o continente
europeu (pelo aplicativo Eurovision app). Importante ressaltar que assim como
no caso do voto dos jurados, o público de cada país não pode votar em seu
próprio representante.
No final do concurso vence o artista
ou banda que possuir a maior pontuação entre juri e público, lembrando que em
caso de empate o voto do público é considerado como critério de desempate.
Mas afinal, como os
representantes de cada país são escolhidos para representarem essas nações no
Eurovision?
É bem verdade que cada país tem
o seu processo de escolha, sendo que em alguns deles um corpo de jurados decide
quem será o representante automaticamente e em alguns casos, como o de
Portugal, existe um concurso nos moldes do Eurovision, também com duas semi
finais e uma final, cujo vencedor também é definido entre o voto do juri
(dividido em 7 regiões portuguesas) e o voto popular. Porém, ao contrário do
Eurovision, o português 'Festival da Canção' conta sempre com o mesmo peso
entre o voto popular e o voto do juri, o que significa que em ambos os casos a
pontuação será revertida para a numeração entre 1 e 12, que são os pontos dados
individualmente por cada pessoa e por cada membro do juri. Aqui assim como no
Eurovision, o voto popular é o critério de desempate, caso necessário.
O Festival da Canção teve a sua
primeira edição em 1964 e anualmente é transmitido pela RTP, a principal
emissora portuguesa. O Eurovision, por sua vez, geralmente pode ser acompanhado
pelo Youtube na página oficial do concurso (Eurovision Song Contest), que
geralmente disponibiliza o sinal gratuitamente para os países que não
participam diretamente do concurso musical.
Então fica a dica onde o
concurso pode ser acompanhado de forma gratuita!
No caso do Festival da Canção,
recomendo utilizar o site da RTP para assistir a transmissão do evento, ou
mesmo pelo app "RTP play" no caso de celulares.
Particularmente comecei a
acompanhar o Eurovision em 2015, em edição realizada na Áustria, que consagrou
o sueco Måns Zelmerlöw, com a música Heroes, seguido pela russa Polina
Gagarina (que descobri graças àquele concurso) e os italianos do Il Volo.
Abaixo apresentarei a lista das
músicas portuguesas estiveram presentes no Eurovision entre 2015 e 2021 (em
2020 o concurso não foi reailzado) e logo após disso a escolha do meu top 3 e
os motivos para cada escolha:
2015 - Leonor Andrade -
"Há um mar que nos separa" - 14º lugar na semi final
2016 - Não participou
2017 - Salvador Sobral -
"Amar pelos dois" - Vencedor
2018 - Cláudia Paschoal e
Isaura - "O Jardim" - 26º lugar na final
2019 - Conan Osiris -
"Telemóveis" - 15º lugar na semi final
2020 - Elisa - "Medo de
sentir" - concurso não realizado
2021 - The Black Mamba -
"Love is on my side" - 12º lugar na final
2022 - Maro - "Saudade,
saudade" - Estará na primeira semi-final do concurso
Agora vamos à lista do meu top 3
pessoal:
- 3º lugar: Elisa - Medo de
sentir
A canção "Medo de
Sentir" da cantora Elisa, nascida na ilha da madeira, foi a que melhor
pontuou no concurso do Festival da Canção de 2020, tendo sido este o primeiro
que acompanhei as semis e a final, além de ter sido a última realizada com a presença
grande de público no Coliseu de Elvas, por ter sido realizada em fevereiro
daquele ano.
A pontuação de "Medo de
Sentir" foi composta pelo 2º lugar tanto entre o júri como entre o
público, também chamado de televoto, enquanto a música que considerei
particularmente como sendo a melhor do concurso, "Passe Partout" de
Bárbara Tinoco, apesar de ter sido a mais bem votada pelo público, foi apenas a
4ª escolhida entre o júri, o que não a permitiu pontuar acima da cantora Elisa.
Nas semanas que sucederam o
evento haviam grandes incertezas quanto a realização do Eurovision naquele ano,
que seria realizado em Rotterdam, na Holanda. Mas com o avanço da COVID-19, os
organizadores do evento decidiram por adiar pela primeira vez a realização do
evento para o ano seguinte.
Outras canções que estiveram
presentes no evento como "Copo de gin", "Cegueira",
"Não voltes mais" e "Diz só", fizeram a base de alguns dos
textos que produzi durante aquele período atípico. Enquanto isso, a cantora
Elisa marcou presença no concurso "Festival da Canção 2021" em uma
performance tocante, mas não em caráter de competição e assim até os dias
atuais não teve a oportunidade de representar seu país no Eurovision. No
concurso de 2022, Elisa esteve presente no júri que representou a Ilha da Madeira
na escolha da canção vencedora do "Festival da Canção 2022", tendo o
júri de sua região escolhido a mesma canção que após o voto de todas as
regiões e do televoto se consagraria como a vencedora, "Saudade,
saudade", de Maro.
Elisa - Medo de Sentir
- 2º lugar: The Black Mamba - Love
is on my side
A edição de 2021 do Festival da
Canção foi ainda mais dramática que a edição anterior. E não somente pelas
restrições sanitárias impostas em decorrência da COVID-19, tendo o evento sido
realizado nos estúdios da RTP, em Lisboa, sem público, como também pelo
desfecho do concurso em si.
A curadoria responsável pela
escolha das músicas que entraram no concurso foi novamente marcada pela
variedade de ritmos assim como no ano anterior e mesmo as escolhas das músicas
para estarem presentes na final (também escolhidas entre o público e o júri)
pessoalmente me agradaram muito. Tanto que das 10 músicas que estiveram
presentes na final, penso que ao menos metade delas ficaria satisfeito em ver
representarem a República Portuguesa no Eurovision 2021.
Se em 2020 eu havia elegido
"Passe Partout" como a minha canção preferida, dessa vez, a minha
escolha pessoal era pela canção "Por um Triz" (guardem esse nome), da
famosa cantora Carolina Deslandes. Aliás vale aqui ressaltar que tanto o
Festival da Canção de Portugal como o Eurovision são concursos que tem o
objetivo de revelar e impulsionar a carreira de novos artistas ou aqueles
conhecidos por um pequeno nicho de fãs e apoiadores. Mesmo assim, cantores e
bandas mais consagrados e famosos podem realizar participações em ambos os
concursos sem qualquer limitação à respeito deles.
Após a apresentação de cada
artista/banda na final do concurso, saíram os votos de cada região portuguesa
em relação ao jurados representantes delas. Ao final desta etapa, Carolina
Deslandes liderava o concurso com os 12 pontos como a artista mais votada na
somatória das regiões, seguida pelos The Black Mamba com 10 pontos e Sara
Afonso com a canção "Contramão" com 8 pontos, a qual também recomendo
fortemente.
Mas foi com o televoto que a
situação foi revertida com a canção "Dancing in the Stars" de NEEV
tendo sido a mais bem votada recebendo assim os 12 pontos, contra 10 dos The
Black Mamba e 8 de Carolina Deslandes, a terceira mais bem votada pelo público.
Assim tivemos o empate entre estes dois últimos, ambos somando 20 pontos entre
o público e os jurados portugueses. Mas pelo critério do concurso o televoto
era considerado como critério de desempate e assim a canção "Love is on
side", 2ª colocada entre o público superou "Por um triz" que
terminou na 3ª posição. E assim se fez a final mais dramática do concurso nos
últimos 3 anos e claro, o nome da canção de Carolina Deslandes somado ao que
parecia ser a predestinação que a artista teria no concurso renderam
brincadeiras nas redes sociais e que foram bem recebidas pela cantora.
Também é importante destacar
que "Love is on my side" foi a primeira música cantada totalmente em
inglês que representou os portugueses no Eurovision. A Canção portuguesa teve
bom desempenho na segunda semi-final do concurso europeu sendo a 4ª mais bem
votada entre júri e público, mas na final teve desempenho discreto, terminando
somente na 12ª posição entre as 26 canções finalistas.
The Black Mamba - Love is on my side
- 1º lugar: Salvador Sobral -
Amar pelos dois
Para a primeira opção desse
ranking não poderia ser outra a canção escolhida, dado que a música de Salvador
Sobral foi não só a primeira representante de Portugal que se consagrou a
vencedora do Eurovision como também a que teve a maior pontuação da história do
concurso. Importante também lembrar que o concurso daquele ano foi realizado em
Kiev, por conta da vencedora do ano anterior ter sido a representante ucraniana
Jamala com a música "1944" a grande vencedora do concurso europeu.
A canção portuguesa participou
da primeira semi-final, tendo sido a mais bem votada entre as 18 canções. O
curioso é que na segunda semi-final, a música "Beautiful Mess" de
Kristian Kostov (que no ano seguinte viria a aparecer no final de ano da TV
russa em parceria com a patinadora Evgenia Medvedeva), representante da
Bulgária, teve a maior pontuação entre as duas semis na somatória da votação
popular e do público.
Mas foi na que Salvador
Sobral se sobressaiu ainda mais que os seus concorrentes, terminando a
competição com 758 pontos (no Eurovision a pontuação do público é
matematicamente proporcional ao número de votos e não se limitam ao universo de
1 a 12 pontos como no Festival da Canção), ante 615 pontos de Kristian Kostov -
Bulgária e apenas 374 pontos do terceiro colocado SunStroke Project com "Hey
Mamma", representantes da Moldávia. Para se ter uma ideia da diferença
entre Salvador Sobral e o 2º colocado, 18 países votaram em Portugal como
melhor canção, contra apenas 4 que votaram na Bulgária, entre os jurados. No
televoto, em 12 países a canção portuguesa foi a mais bem votada ante 7 nações
que votaram no representante búlgaro. Em suma, uma vitória incontestável de
Salvador Sobral que tocou o coração de muitos europeus e ao meu em particular
com uma performance inconfundível durante o concurso.
Apenas lamento que naquele ano
não pude acompanhar o concurso ao vivo pelo Youtube, pois o canal oficial da
organização restringiu os direitos de transmissão na plataforma de vídeos.
Naquela mesma edição, a Rússia foi impedida de participar do concurso pelo governo
ucraniano e a transmissão do evento também não pode ser assistida pelos russos. Lembrando que também no ano anterior, quando o concurso foi
realizado na Suécia, os direitos de transmissão foram restringidos e não
consegui acompanhar o evento pelo Youtube.
Para a sorte dos fãs do
Eurovision espalhados pelo mundo que não podem acompanhar o concurso por algum
canal de televisão nacional, de 2018 em diante (quando o concurso foi realizado
em Portugal), o show passou a ser novamente transmitido pelo Youtube sem
restrições para brasileiros.
Por último, encerro esse post
mencionando que a história de Salvador Sobral não fez história somente em 2017
com a maior vitória da história do Eurovision, como também no ano seguinte, fez
uma apresentação marcante de "Amar pelos Dois", em Lisboa,
transmitido para todo o mundo e com a participação do cantor brasileiro,
Caetano Veloso, o grande ídolo de Salvador Sobral na música.
Assim fecha-se a página mais
bonita da história portuguesa nas 65 edições do Eurovision Song Contest até
hoje!
Salvador Sobral - Amar pelos dois