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sábado, 8 de abril de 2023

Top 3 - músicas de destaque do Festival da Canção 2023

A edição de 2023 do Festival RTP da Canção, realizada entre os dias 25 de fevereiro a 11 de março, nos estúdios da principal emissora portuguesa, reuniu 20 canções divididas em duas semi-finais e a grande final, da qual a cantora Mimicat se saiu vencedora com o tema 'Ai coração'. O concurso musical vale como classificatória para o Eurovision Song Contest, o principal festival europeu de competição de bandas e artistas entre as nacionalidades europeias e até as de fora do continente, como Israel, Austrália, Armênia, Azerbaijão e Geórgia.

Para saberem mais detalhes de como funciona tanto o Festival da Canção como o Eurovision e um breve histórico de ambos, recomendo acessar o link abaixo, cujo post escrito há um ano atrás, discorre sobre esses e outros detalhes desses concursos musicais.

https://poesiaeromantismo.blogspot.com/2022/03/top-3-musicas-portuguesas-no-eurovision.html 

Para este post trarei uma breve análise sobre o concurso em si em sua edição de 2023, a quarta seguida que acompanho em detalhes, bem como sobre as três canções e uma menção honrosa que estiveram presentes na final do concurso.

Com relação ao concurso de forma geral, me surpreendi muito positivamente com a qualidade da seleção de artistas e bandas para 2023, que ao menos para o meu gosto pessoal posso dizer que dois terços das 20 canções participantes nas duas semi-finais me agradaram profundamente, sensação esta que não obtive nas três edições anteriores do concurso, ainda que estas também tenham revelado canções que considero marcantes e muito originais, cuja variedade de estilos sempre esteve presente.

Outra particularidade neste ano é a de que o Eurovision será realizado em Liverpool, Reino Unido, apesar de o vencedor do ano de 2022, Kalush Orchestra, ter representado a Ucrânia, o que daria ao país a oportunidade de sediar o evento em 2023, esta regra não foi possível de ser cumprida por conta dos conflitos ainda existentes em território ucraniano. Apesar da situação geopolítica delicada, também é importante de se ressaltar que Liverpool é uma das capitais internacionais da música, de onde saíram bandas icônicas como os Beatles, Frankie Goes to Hollywood, Liverpool Express, dentre outros conjuntos de sucesso. Dessa feita, cantores como Salvador Sobral e David Fonseca realizaram homenagens à musicografia que Liverpool deu ao mundo.

Segue abaixo a breve análise e a minha opinião sobre as canções 'Ai coração', 'A festa', 'Goodnight' e 'Fim do mundo'.

  • Mimicat - 'Ai coração'
A história de superação da cantora coimbrense Mimicat de ter participado do Festival da Canção a primeira vez com 15 anos em 2001 e de ter retornado ao concurso 22 anos depois já valeria por si só a atenção dos espectadores como algo incomum e ao mesmo tempo muito admirável. E o que se viu na letra em si foi a cantora e compositora tratar das tentativas em vão de controlar o amor e seus imprevistos de uma forma cômica e divertida, o que é algo que conquista o espectador logo de início, além de uma cativante e animada perfomance de palco, em um estilo que mais lembra o 'burlesque' e 'vintage' de muitas décadas atrás.

Dessa forma, tanto a performance de palco como a letra de Mimicat foram contemplados com o primeiro lugar entre o júri e o chamado 'televoto', ou seja, entre o público, ganhando assim de forma incontestável o Festival da Canção 2023. Assim, a cantora portuguesa estreará daqui um mês, no dia 9 de maio na primeira semi-final do Eurovision, competindo por uma vaga na final do torneio ao lado de países como Sérvia, Irlanda, Croácia, Países Baixos e a favorita Suécia, da cantora Loreen, que em 2012 ganhou o concurso com a febre mundial 'Euphoria'.



  •   Edmundo Inácio - 'A festa'
Confesso que particularmente a música do cantor de Portimão, Edmundo Inácio, não me causou tanto impacto quanto as demais analisadas por aqui, mas é inegável o ótimo desempenho que ele teve na final do concurso, tendo inclusive terminado empatado em primeiro lugar com a cantora Mimicat, entre os jurados do concurso, algo que aconteceu pela primeira vez na história, e que fez com que a decisão do público fosse ainda mais importante nesse contexto, mesmo que este já tenha tido peso dois em outras oportunidades nas quais dois artistas se encontraram empatados na somatória do voto do júri e do 'televoto', sendo este último o mais importante na composição das notas.

A canção denominada 'A festa' possui em seus acordes influencias árabes, lembrando o período de dominação daquele povo sobre a península ibérica, se confundindo também com a história portuguesa e aparecendo em algumas famosas canções do país, como é o caso de Conan Osíris, por exemplo, que venceu o Festival da Canção em 2019 com 'Telemóveis'. A letra de Edmundo em si faz referência à um eu lírico que não se sente bem-vindo e acolhido em uma festa, onde questiona se esta é uma luta de poder entre o ego das pessoas e o próprio eu lírico, a quem não lhe é permitido ser quem ele realmente é.



  • Bárbara Tinoco - 'Goodnight'
Aos que leram o post que recomendei lá no início já sabem o quanto essa cantora lisbonense significa para mim no âmbito da música portuguesa, sendo ela a responsável pela minha música preferida das últimas quatro edições do Festival da Canção, com 'Passe Partout'. A expectativa era altíssima, já que em 2020 ela havia alcançado o segundo lugar com essa melodia, tendo sido a preferida entre o júri de artistas portugueses. Além disso, a música elaborada para a edição de 2023 havia sido a primeira composta por Bárbara em língua inglesa. Mas por conta da baixa pontuação entre os jurados das sete regiões portuguesas votantes (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve, Madeira e Açores), tendo terminado a primeira fase da votação em oitavo lugar, a cantora de Lisboa já era considerada 'carta fora do baralho' na disputa pelo título. No televoto, Bárbara se destacou um pouco mais, terminando o concurso na quarta posição, atrás das duas canções mencionadas acima e de 'Nasci Maria', de Cláudia Pascoal, vencedora do Festival da Canção em 2018.

A letra em si é de caráter amoroso e faz alusão a um eu lírico melancólico sobre um antigo relacionamento que se acabou, onde sua mente contrastava entre os bons momentos do antigo casal e as tentativas sem sucesso do eu lírico de se relacionar com outras pessoas de forma amorosa. A performance de palco também me impressionou pela ideia em si, com Bárbara interagindo entre as diversas pessoas presentes ali, que realizavam ações como ler uma obra literária, brindar em uma festa, mas todas em estado imóvel, e como se estivessem reunidos em uma grande foto, intitulada 'Goodnight - 2023', materializando assim o forte caráter nostálgico da canção.



  • Inês Apenas - 'Fim do mundo'
Nesse post, não poderia deixar de fazer uma menção honrosa à canção da pianista, cantora e compositora Inês Apenas. Quando eu mencionei que o Festival da Canção 2023 foi o de mais alto nível entre as canções apresentadas nos últimos anos, posso dizer que a situação de Inês representa bem essa situação. Uma composição que apesar de ter passado para a final do concurso em terceiro lugar na segunda semi-final e não ter zerado sua pontuação nem entre o júri, nem entre o televoto, mesmo assim terminou a final na última posição, entre as treze canções participantes e empatada com a banda SAL e a música 'Viver'.

É bem verdade também que o modo como a música em geral toca (ou não) nossas almas é feita de forma muito particular e individual, a partir da percepção de cada ser humano de acordo com gosto musical, preferências, visão de mundo, dentre outros aspectos. No meu caso em particular, o caráter apocalíptico-dramático da canção romântica, aliada aos acordes de piano (meu instrumento musical preferido) e a forma como me encontrei de forma tão contundente dentro da música, especialmente nos versos 'Salva-me o dia, já é tarde. Este poema é teu e vou guardar pra mim. Dizem que o amor é fogo e arde. Espero que a chama não se apague'. A intertextualidade com Camões, aliadas aos motivos que explanei acima, me fazem enxergar Inês como uma grata revelação da música portuguesa no pop, soul, R&B, misturados com música eletrônica e aliadas ao (sempre bem-vindo) piano.