A data de 19 de maio definitivamente é uma das mais simbólicas na minha vida, mas não poderia imaginar que em um espaço de 10 anos observaria um elo tão forte e significativo entre os anos. Mas antes de contar propriamente sobre o 19 de maio de 2024 e a minha chegada em Verona, é necessário fazer uma breve contextualização sobre o que ocorrera há exatos 10 anos e o motivo dela ser tão marcante assim.
No dia 19 de maio de 2014, quando eu era apenas um adolescente de 16 anos, estudante da ETEC Parque da Juventude, estava me preparando para uma importante apresentação, talvez a mais importante da minha vida até aquele momento. Era uma segunda-feira e não a toa o dia escolhido para a apresentação do Sarau. Sem entrar em maiores detalhes (talvez um dia conte o passo-a-passo dessa iniciativa), a data escolhida tinha um simbolismo de ser o dia seguinte do aniversário da pessoa que seria homenageada na apresentação com as respectivas poesias e livros de autoria pessoal, mas não somente esta.
Um dia que certamente ficou marcado como um momento em que levei para cerca de 40 alunos, incluindo a pessoa homenageada, as características do Romantismo enquanto movimento literário, bem como do romantismo, enquanto valor humano e até mesmo críticas à superficialidade humana muito por conta das redes sociais, mas não somente por causa destas.
Dessa forma, sempre carreguei essa data comigo, inclusive foi em 19 de maio de 2020 que eu abri este espaço literário com o post, cujo link estará disponível para acesso abaixo:
https://arteemulticulturalismo.blogspot.com/2020/05/inauguracao-do-meu-espaco-literario.html
Completados 4 anos de blog e 10 anos de Sarau, o primeiro e único que organizei por conta própria, mal sabia que novamente o romantismo estaria fortemente presente nesta data. É bem verdade que nem tudo é só charme, então é preciso dizer que antes de chegar em Verona, eu perdi um trem que saia de Bolonha por volta de umas 11 horas de manhã, seja pela falta de ônibus que atendam a demanda de turistas, seja por uma imprudência minha no café da manhã no hotel em que estive hospedado em uma conversa com uma nova amizade suíça que se estendeu um pouco mais do que imaginava.
Mas deixando esses pormenores para trás, consegui chegar em Verona no início da tarde, a tempo do check-in no hotel que havia reservado na cidade. A distância entre Bolonha e Verona era de cerca de uma hora de trem e fazia sentido passar por lá, considerando que a minha próxima parada seria em Milão e que, portanto, Verona estaria no meio da rota em questão.
Após desembarcar na estação Verona Porta Nuova foram cerca de 20 minutos, um pouco mais de 1km de distância para o hotel Citadella, cujo espaço tive muita dificuldade de encontrar, devido a falta de sinalização no prédio, que para quem passava na rua parecia mais um apartamento comum de moradores locais, ao lado de um restaurante tailandês.
Por outro lado, a localização era estratégica porque ficava entre a estação de trem e o centro da cidade. O hotel também ficava a apenas 500 metros da histórica Arena di Verona, um pequeno "coliseu" local, onde no dia 21 eu viria a assistir o show de uma artista italiana chamada Annalisa, na noite de terça-feira debaixo de uma forte pioggia rsrs Mais deixaremos esse episódio talvez para contar em outra oportunidade aqui no blog se vocês assim desejarem.
Após algum tempo descanso no quarto de hotel, depois de uma excelente recepção feita pelo funcionário do Citadella, onde o mesmo apresentou por meio de um mapa os principais pontos turísticos da cidade, e onde já era possível perceber o quanto Verona era uma cidade onde esses locais ficavam muito próximos um do outro e por isso não preciso muito mais do que 3 dias para conhecer a cidade, decidi sair para um passeio no centro da cidade e quem sabe visitar a Casa di Giulietta naquele domingo.
O início do centro da cidade é marcado pela Piazza Bra, um lugar repleto de bares e restaurantes, além da própria Arena di Verona. Ali observei um cartaz pendurado em um dos postes que me chamou muito a atenção. Se tratava de um festival que reunia teatro, música e dança, organizado pela Comuna de Verona. O "Estate Teatrale Veronese" trazia naquele cartaz diversas atrações culturais, com duas delas me instigando profundamente logo quando fitei aquelas informações. A primeira se tratava da apresentação do talentoso cantor italiano Mario Biondi em 24 de junho no Teatro Romano. O artista, ícone do jazz e do soul já fez artistas com diversos artistas brasileiros, incluindo Ivan Lins, tendo até mesmo um álbum chamado "Brasil", lançado em 2018, com sucessos como Deixa eu dizer, Luiza, Felicidade e Eu sei que vou te amar.
Mas o nome que mais me encheu de orgulho naquele cartaz era o de Marisa Monte, que se apresentaria também no Teatro Romano em 28 de julho, no "Rumors festival". Aquilo tinha dado um vigor especial na minha passagem pela cidade italiana que certamente eu iria precisar mais adiante.
Passada aquela contemplação por uma artista brasileira que significa tanto para mim, eu só tinha um objetivo naquele final de tarde de domingo que era visitar a Casa di Giulietta que estava próxima de fechar e só abriria novamente na terça-feira, data em que eu já estaria me deslocando para Milão ainda pela manhã.
Para chegar nesse importante ponto turístico de Verona, passei pela Via Giuseppe Mazzini, uma importante rua repleta de lojas de grife e algumas lanchonetes e restaurantes interessantes. Após chegar na Via Cappello, cheguei na mais famosa casa de um personagem literário dentro do universo shakesperiano.
O local estava presente em uma arquitetura medieval, o que por si só já é uma realidade exótica e distante para nós brasileiros e geralmente vista somente em filmes, séries e documentários. Como era de se esperar também estava lotado de turistas que queriam visitar tanto o "Museu Casa" como tocar na estátua de Giulietta, em uma "bizarra" tradição que não irei contar aqui, mas que pode ser vista em detalhes no link abaixo:
https://www.spescoladeteatro.org.br/noticia/ponto-apalpando-o-seio-de-julieta
Mas infelizmente a minha visita ao local se limitou à parte externa da casa, bem como a estátua que observei distante e que sempre fica cercada de turistas de todo o mundo, conforme as fotos que vocês podem observar abaixo.
Naquele final de tarde de domingo, reservei um tempo para visitar outros locais interessantes no centro da cidade, desde a estátua de Garibaldi que fica logo atrás da Casa di Giulietta, passando pelas ruas estreitas que tanto idealizamos em nosso imaginário, bem como lugares abertos como a Piazza delle Erbe, que naquele dia tinha uma feira com vários produtos sendo comercializados como roupas, chapéus e artesanato.
Terminei o dia comendo gnocchi ao molho branco e carne com cogumelos, com um saboroso Tiramisu de sobremesa no Caffe' Le Fogge, localizado entre o Corso Sant'Anastasia e a Via delle Fogge, onde destaco o excelente atendimento dos garçons (que até mesmo me lembraram da minha bolsa que eu quase esqueci no local) e que quando respondi que era brasileiro ficaram ainda mais entusiasmados.
Antes de voltar para o hotel, também passei por uma doceria chamada "Captain Candy", cujo estilo me enchia os olhos e que se tratava de um tipo de loja muito comum em alguns países da Europa como Itália e Rússia e que desde a minha passagem por Moscou e São Petersburgo em 2018 tive a vontade de conhecer a loja russa chamada "Piratmarmelad" que também tinha a mesma proposta. No final das contas foram necessários 6 anos para que eu tivesse essa experiência.
Por último, também decidi utilizar o aplicativo "Too Good to Go" (disponível na Europa, Estados Unidos e Japão), onde se pode reservar comida e lanches que seriam desperdiçados pelo estabelecimento por falta de demanda, com um preço muito simbólico, no caso da minha compra apenas 5 euros. Também decidi usar o aplicativo de forma estratégica, visto que a coleta de comida ou lanches costuma ser muito bem servida e ser o suficiente para um café da manhã farto, por exemplo, ou em alguns casos até mesmo mais de uma refeição.
Digo que a escolha foi estratégica porque no hotel onde estive hospedado o café da manhã não era servido e a opção pela Scaravelli Forneria que ficava ao lado da Sephora, na Via Giuseppe Mazzini. O resultado final foram deliciosos pães, pedaços de focaccia, além dos doces comprados no "Captain Candy", que se eu não me engano durou uns dois dias, considerando que eu comia eles somente no hotel.
Assim foi encerrado o dia que marcou um nexo temporal inesperado entre o dia mais romântico da minha adolescência, onde exaltei a importância de atos e atitudes concretas, relacionamentos menos superficiais e mais reais, e o dia que marcou os 10 anos dessa importante data, comemorado com uma passagem pela cidade de Romeu e Julieta.
Fotos
Foto da estátua de Garibaldi