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domingo, 2 de agosto de 2020

O dia da Rússia e o holograma poético (2019)


    A apresentação do Dia da Rússia começou com nostalgia. Há um ano eu estava chegando em São Paulo, vindo da viagem da minha vida. As músicas do coral e dos cantores solos colocavam ao fundo meus momentos na terra eslava. As lágrimas insistiram em não cair, apesar da catarse que se apresentava. Era uma bela simulação da Rússia, os trajes, o idioma, a pujança, mas não era o território e o seu aroma, como na despedida tão lacrimejante.
    Eis que o ambiente se animou com a entrada da Balalaika. Eram os amigos da czarina que dançavam alegremente com sua coreografia que chamava o público para sua cultura inclusiva. Meus olhos procuravam-na inconscientemente mas não a encontravam. Eram russófilos talentosos que disseminavam sua linda cultura para o público apreciador da mais refinada e folclórica arte. Os cossacos brasileiros andavam pela platéia, as moças exalavam o charme e a feminilidade que a imperatriz russa tanto havia utilizado em suas coreografias, apaixonando as diversas plateias que a assistiam. Depois entram outros grupos. Dança folclórica, balé clássico, balé contemporâneo... A minha procura continua... Tão irracional!
    No grupo do coral russo uma moça ao centro se assemelhava à ela em alguns traços. Era uma perigosa ilusão de ótica. Parecia até que meus olhos a desenhavam na minha frente criando-me uma matrix confortável de se viver e se admirar. Era a musa como cantora lírica com seu vestido vermelho de brilhantes, coberto por outro tecido de seda e um sapato preto. Swarovski nos brilhantes? Vivara nas jóias? Schultz no sapato? Channel naquele batom vermelho que simulava sua delicadeza de rosa? Tudo isso estava a sua altura e a matrix recriava fielmente essa realidade. Ela sozinha no palco, acompanhada por uma pianista, enquanto eu na primeira classe dava meu sorriso mais sincero para apoiá-la, o que acalentava nossos corações.
    Mas, ну, тааа... Где Ю...? Это не Ю...! É uma ilusão do meu idealizar. Os meus olhos da caverna viam a G..., mas minha mente repetia: Não é a G...! Não é a G...! Não é a G...! Insistentemente repetia o que deveria ser uma verdade absoluta, mas que por um momento era contestada. A vontade que meu coração desejava em vê-la ali como uma artista, com nossas almas conectadas pelas trocas de olhares era tão intensa que isso criou a figura de uma falsa musa a me confundir. Essa vontade elaborou a matrix que de tão linda e perfeita tem de ilusória e frágil, como os pequenos cristais do seu vestido ilusório de uma apresentação ilusória. Assim os poemas e textos são criados. Assim a saudade se metaforiza num momento. Assim a arte se faz. Assim minhas emoções se fazem mais humanas. Nobre czarina da Federação Russa, me traga a minha alma de Moscou em uma semana por obséquio e assim eu verei a verdade e a tua me libertará. Entregue-a a mim e direi a ti: мой сердце? Вот так!


Fotos da Apresentação em Homenagem ao Dia da Rússia no Teatro São Pedro - 30/06/2019




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