Apenas na espreita, encolhido na janela da porta, via os movimentos do balé contemporâneo, eram pássaros que ganhavam vida no piso de madeira. A imaginação e a magia artística tão bela e distante do meu cenário orçamentário, ao belo e clássico mas envelhecido do prédio. Mas eis que a coreografia fora levada para segundo plano, em um vestido amarelo e suas flores no bordado. A sandália marrom e sua harmonia com o piso. Tamanha feminilidade em sua pose tão fissurada. Aquele ensaio era o seu mundo e nada mais. The ballerina livin' that thing. Living her soul. C'est fantastique, formidable!
Falo nas línguas dos lugares onde se apresenta, mas me ponho a ser um humilde trovador e burocrata em sua agenda de apresentações de inabalável excelência artística. Sua fixação sequer permitiu que olhasse para mim, que me concedesse a honra de nos fitarmos e trocarmos sorrisos. Assim sendo, sequer vi o seu rosto naqueles momentos de tanta expectativa. A alma pedia o grito, a atenção, mas tudo era apagado para que eu vivesse em torno da sua atenção. Meus olhares curiosos, os olhares na espreita, nada mudou o curso do destino para nos unir. Mas este brinca nos acontecimentos e coincidências. Aquele amarelo da delicadeza e feminilidade agora estava no elevador do trabalho, na dama da orquestra que mal podia me observar naqueles rápidos segundos antes da porta se fechar. Notável elegância e estilo contemporâneo. Mesmo que dourada, que a chama da inspiração permaneça enquanto durar. Tudo o que reluz e inspira é ouro.
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