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domingo, 31 de outubro de 2021

Top 5 - versões russas de músicas internacionais

Vocês já tiveram aquela sensação, quando ao ouvir uma música brasileira, de que conheciam aqueles acordes ou que aquela letra já havia sido ouvida antes num outro contexto ou num outro idioma? Apesar de a música brasileira ter construído ao longo dos séculos XX e XXI forte popularidade internacional, respeito e admiração pela criatividade que possuímos em tantas letras e ritmos diferentes, é notável a quantidade de vezes que já me deparei com canções nacionais que eram como "cover" ou no mínimo tinham como inspiração alguma canção estrangeira, na maioria das vezes advinda do maior mercado musical do mundo, os Estados Unidos.

Esse fenômeno de influência americana ainda se encontra presente na maioria dos países, inclusive naqueles que pensamos ter maior rivalidade política, como é o caso da Rússia, em movimentações políticas também no século XX que fomentaram tal tendência. Ainda assim, na camada da sociedade onde habita o "russo médio" essa rivalidade não possui tanto eco para com o "cidadão médio estadunidense" ou mesmo para a cultura advinda de Washington, visto a forte presença do mercado audiovisual dos Estados Unidos em todo o mundo, inclusive na Rússia.

Encontrar um cidadão russo, especialmente entre os mais jovens, que aprecia o cinema americano muito mais do que o de seu país e que segue a mesma tendência para outros aspectos artísticos como músicas, televisão e outras formas de programação cultural, é certamente tão fácil quanto encontrar um brasileiro que se vê dentro da mesma influência dos EUA, ainda que no caso brasileiro possamos dizer que a música brasileira ainda continua fortemente enraizada entre nós, mesmo na camada mais jovem da população.

Dadas essas premissas, não é tão difícil entender como no mercado musical russo existem alguns "covers", "regravações", "remontagens" que tiveram como base músicas estrangeiras. Nesse post, trarei versões russas de canções internacionalmente famosas como September, Despacito, All Around the World, La Copa De La Vida, além de uma versão de Vocalise, de Lara Fabian, uma cantora naturalizada canadense, de grande prestígio internacional e afinidade com a cultura russa.

Vamos às canções desse top 5 - covers russos!

  • SOPRANO Турецкого - Сентябрь
Para essa primeira música, precisamos falar inicialmente do grupo Earth, Wind & Fire, fortemente lembrado pelos "tempos da discoteca", nos anos 70 e 80, cujas músicas se eternizaram e até hoje são tocadas com grande frequência nas rádios de todo o mundo. Isso para não falar de festas temáticas e até temas de programas de televisão, rádio e propagandas que usam as canções da banda por serem canções conhecidas entre quase todas as idades.

A banda formada em 1969 nos Estados Unidos, tem como seu maior sucesso a música "September" que no Youtube passou de 500 milhões de visualizações, sendo o vídeo mais acessado entre os sucessos produzidos pela banda e não à toa a música fora escolhida pelo grupo SOPRANO Турецкого para ser regravada no programa "Субботний вечер" em 2016, numa versão totalmente adaptada à língua russa.

O grupo russo é conhecido por "covers" de outros sucessos como "I love you baby" (Can't take my eyes off you - nome original), "Somebody to Love", ou mesmo regravações das músicas originais, além de trabalhos autorais que transitam desde o pop até a música clássica.


SOPRANO Турецкого - Сентябрь
 


Earth, Wind & Fire - September



  • Клава Кока - ДЕСПАСИТО
A cantora russa Klava Koka, de apenas 25 anos, já pode ser considerada como uma grande sensação de seu país, cujas músicas frequentemente se encontram nas paradas de sucesso. A artista, nascida em Ecaterimburgo conta com mais de 7 milhões de seguidores no Instagram. Apenas a música Краш, feita em parceria com o cantor NILETTO tem mais de 200 milhões de visualizações no Youtube e outros sucessos como Покинула чат e Мне пох passaram de 100 milhões de views na mesma plataforma.

Apesar do sucesso cada vez mais consolidado em seu país, Klava Koka escolheu gravar um "cover" de um artista mundialmente conhecido. Sabe aquela famosa "febre" de um hit que simplesmente ganha as paradas de sucessos país por país até se consolidar como um fenômeno mundial? Assim aconteceu com o Despacito, do porto-riquenho Luis Fonsi, que somente no Youtube tem mais de 7 bilhões de visualizações, cujos "covers" se espalharam pelo mundo inteiro, inclusive pela Rússia com a versão de Klava Koka que na mesma plataforma atingiu em somente um vídeo (gravado para a rádio Страна FM) obteve mais de 2 milhões de views.


Клава Кока - ДЕСПАСИТО



Luis Fonsi - Despacito ft. Daddy Yankee



  • Михаил Шуфутинский и Маша Вебер — Повторяй за мной
Para comentar brevemente sobre este dueto russo, primeiro é preciso voltar à 1989, mais especialmente para o primeiro álbum da cantora britânica Lisa Stansfield denominado "Affection". O início da carreira de Lisa se mostrou promissor a partir dos números relacionados à este disco, tendo estado entre o top 10 da Billboard e das paradas de sucesso na Europa, com cerca de 5 milhões de discos vendidos no mundo inteiro, o que gerou diversos discos de ouro e platina no circuito musical EUA e Europa.

Na edição americana do disco, a música "All Around the World" fora colocada logo de início da "track list", sendo de longe a canção de maior sucesso do disco, tendo rendido quase 50 milhões de visualizações no Youtube até hoje e à época gerou uma parceria com o cantor Barry White para a gravação da mesma música.

Com base nessa parceria os cantores Mikhail Shufutinsky e Masha Weber se uniram num projeto que homenageava o poeta russo Mikhail Gutseriev na letra da música e ao mesmo tempo contava com os acordes de "All Around the World", denominada Повторяй за мной (2019). Um detalhe importante no clipe, gravado sob o tema do luxo que dá o tom do videoclipe desde o casarão onde ocorre as filmagens, os figurinos, a limusine, dentre outros aspectos estéticos envolvidos, é a aparição do cantor russo Alexei Vorobiev (já citado neste blog dentro do post "Músicas russas com a temática histórica e literária - parte II") ao final das filmagens. Um motivo talvez bem razoável para essa aparição está no fato de que Vorobiev e Weber gravaram juntos um dueto com a mesma música um ano antes, mas naquela ocasião com o nome de "Любовь твоя я".

Михаил Шуфутинский и Маша Вебер — Повторяй за мной



Lisa Stansfield - All Around the World


  • Димаш – Знай (Know)
Para a próxima canção do nosso top 10 faremos uma volta ao tempo um pouco mais breve, para o ano de 2010 quando o álbum Mademoiselle Zhivago, da cantora canadense Lara Fabian fora lançado. Além de o nome ser uma referência direta ao famoso romance russo Doutor Zhivago, de Boris Pasternak (1957), o álbum foi lançado primeiramente para os mercados russo e ucraniano e apenas dois anos depois esteve presente nas prateleiras das lojas francesas e belgas (terra natal da cantora).

Podemos considerar o auge da cantora naturalizada canadense como o da década 1995-2005, onde ao menos 10 prêmios foram conquistados pela artista, tais como "melhor intérprete", "revelação do ano", "melhor cantora do ano", dentre outros.

Apesar de Lara Fabian ter gravado a maioria de seus sucessos na língua francesa e inglesa como I Wiil Love Again e Je t'aime, uma curiosidade interessante é que em 1999, por meio do quarto disco lançado em sua carreira, Lara decidiu gravar um single em português chamado "Meu grande amor", sendo este na verdade uma nova versão para a música Si tu m'aimes.

Voltando ao álbum Mademoiselle Zhivago, que contava com músicas em inglês, espanhol, francês e até mesmo em russo (Любовь, Похожая На Сон), é importante destacar que todas as 11 músicas de sua versão original foram gravadas em parceria com o consagrado pianista russo Igor Krutoy. Também destaco a canção "Russian Fairy Tale" (gravada em francês) como sendo uma das principais homenagens presentes no álbum à cultura russa.

Vale destacar que é a partir de Igor Krutoy que anos depois um projeto musical baseado em Mademoiselle Zhivago fora gravado, mas dessa vez com a presença da jovem promessa cazaque Dimash Kudaibergen. A missão era fazer uma releitura do álbum voltada ao idioma russo com a estética original mantida, sendo a letra em si o grande ponto de mudança. E novamente os versos do poeta russo Mikhail Gutseriev foram escolhidos para a remontagem das canções.

Graças as regravações de Mademoiselle Hyde (que praticamente manteve sua letra original), Je t'aime encore que se tornou Любовь уставших лебедей e Vocalise que se transformou em Знай, Dimash ganhou forte projeção dentro do mercado russo, estando presente nos principais eventos musicais transmitidos pela televisão russo (quase sempre acompanhado de Igor Krutoy, como o festival "Новая Волна" ou "Nova Onda", nos anos de 2018, 2019 e 2021.

Para finalizar esse tópico deixo aqui as palavras do próprio Dimash comentando suas impressões sobre Знай: “A música é incomum, nada parecida com as outras. Nesta composição o céu e a terra se encontram, o amor humano e o universal" (tradução livre).

Димаш – Знай (Know)


Lara Fabian - Vocalise



  • Александр Панайотов - La Copa De La Vida
Para o último tópico do post "Top 5 - versões russas de músicas internacionais", vamos para o ano de 1998, onde o cantor porto-riquenho Rick Martin se mostrava como sendo um dos grandes fenômenos musicais daquela época. Assim como Shakira conseguiu emplacar em 2010 e 2014, dois grandes temas referentes à Copa do Mundo com Waka Waka e La La La, na Copa da França em 1998, quando o Brasil se contentou com o vice-campeonato perdendo para os anfitriões do torneio por 3 a 0, era Rick Martin que embalava os torcedores da competição com o principal hit do evento.

Gravado em inglês e espanhol, o single atingiu o primeiro lugar das paradas de sucesso em diversos países inclusive conseguindo o primeiro lugar das paradas europeias por algumas semanas (European Hot 100 Singles da Billboard), além de diversos prêmios ao redor do mundo como, por exemplo, um disco de platina por ter vendido somente na França, mais de 500 mil exemplares.

Vinte anos depois, o cantor ucraniano Alexander Panaiotov decidiu gravar uma versão da canção de Rick Martin adaptada à língua russa, apresentando-a no programa mais tradicional do fim de ano na Rússia, o "Новогодняя ночь на Первом" ou "Programa da Véspera de Ano Novo no Perviy Kanal". A atração é conhecida como sendo a principal na televisão russa para a passagem de ano, onde apresenta os videoclipes de maior sucesso daquele ano, bem como as novidades dos artistas de maior sucesso naquele país, sendo canções usualmente gravadas em pontos turísticos de Moscou que intercalam as suas participações com diálogos entre as principais celebridades do Perviy Kanal ou "Canal 1".

Diferentemente da ideia original de Rick Martin, a versão de Panaiotov buscou trazer um grande review daquele ano de 2018 com a compilação das principais conquistas esportivas da Rússia daquele ano, dando um enfoque especial à Copa do Mundo (sendo mostradas diversas cenas do estádio Luzhniki durante o clipe), mas também às Olímpiadas de Inverno e demais eventos esportivos.

No meu caso, confesso que esse clipe e a forma como foi elaborado me conquistou em especial, não somente por tê-lo assistido ao vivo naquele último dia de 2018, mas por todas as emoções que ele evocou dentro de mim, vindas daquele ambiente típico de Copa do Mundo e da jornada russa nas Olimpíadas de Inverno, em fevereiro daquele mesmo ano.

Será sempre bem-vinda a união entre o esporte e a arte! 

Александр Панайотов - La Copa De La Vida


Rick Martin - La Copa De La Vida


domingo, 29 de agosto de 2021

Poesias com a temática olímpica - parte II

Seguimos com a parte II do post sobre poesias que se conectam com a temática esportiva, especialmente relacionada aos eventos olímpicos e às Olimpíadas de uma forma geral. Os versos, como explicado no post anterior, geralmente se referem às atletas dos esportes onde a arte facilmente se encontra com a competição em si, como é o caso principalmente, da ginástica artística e rítmica, no caso dos jogos de verão.

Nas três poesias apresentadas abaixo temos como aspecto temporal o ano de 2016 e o recebimento pela primeira vez na América do Sul de uma Olímpiada, sendo isto por si só um momento histórico para o Brasil e para os fãs das modalidades olímpicas que residem aqui, e além do mais, do próprio espírito olímpico, de tantas histórias diferentes que são contadas em menos de um mês, e junto disso o encontro de todas as nações sem qualquer recorte ou limite, onde todos geralmente se encontram e interagem na Vila Olímpica ou no Parque Olímpico no caso dos torcedores.

Aqui temos na primeira poesia (Arina e sua pureza revigorante), versos escritos antes da Rio 2016, enquanto 'Our Theatre of dreams' fora escrita durante um dos dias em que participei das Olimpíadas como espectador, mais especificamente no Futebol Feminino, e por último, a poesia 'Rio 2016' que traz uma homenagem final ao maior evento esportivo do mundo. 

Feita essa breve introdução desejo uma boa leitura à todos!

  • Arina e sua pureza revigorante
Nesta primeira poesia exposta no post, feita em homenagem à uma atleta representante da equipe bielorrussa de ginástica rítmica, devo dizer que se trata de uma das mais dramáticas e tristes histórias de um período olímpico (ainda mais quando o espectador possui forte empatia com a pessoa que está competindo).

Não me lembro ao certo de quando comecei a seguir Arina no Instagram, mas creio que tenha sido sido por volta do primeiro semestre de 2016, poucos meses antes da Rio 2016. Tratava-se de uma atleta nascida em Barnaul, Rússia, que teve de representar a seleção de Belarus nas competições, muito provavelmente pela forte concorrência que encontrou dentro do próprio país, onde as meninas da seleção russa carregavam a 'hegemonia do ouro' durante várias Olímpiadas. Vale lembrar inclusive, que em esportes como as ginásticas artística e rítmica, patinação artística, dentre outros, é muito comum que atletas russos procurem outras delegações para representar, caso não consigam o devido espaço dentro de sua própria seleção nacional.

Ainda sim, Belarus também possuía tradição no esporte e dentro daquele ciclo olímpico havia um bronze nos Jogos Europeus em 2015 e prata no Campeonato Europeu em 2016, em competições por equipe, assim a expectativa por uma medalha no Rio era enorme por parte das atletas bielorrussas.  

Mas o que se viu naquela final olímpica na competição por equipes, não refletiu o histórico mencionado acima. O ouro como se esperava foi premiado para as atletas russas, enquanto a prata foi concedida para as espanholas e o bronze para as atletas da Bulgária. Para aumentar mais o drama, Belarus havia terminado em terceiro lugar na classificatória e só precisaria aumentar um pouco mais a sua nota para conseguir um pódio que não aconteceu naquele momento.

Ao acompanharem a nota final sendo divulgada, e não poderia ser diferente, o que se viu foram diversos semblantes de decepção, com destaque para as lágrimas incontroláveis de Arina que era visivelmente a mais emocionada naquele momento.

Em Tóquio, encerrado mais um ciclo olímpico (vindo com um Ouro em 2019 nos Jogos Europeus em casa e uma prata nesse ano em 2021 no Campeonato Europeu), a situação continuava complicada para o quinteto de Belarus. Dessa vez, na classificatória as atletas terminaram apenas em oitavo lugar e ficaram em quinto lugar na final, assim como na Rio 2016. Apesar do uso das máscaras no local de espera das notas, novamente se via que as atletas bielorrussas estavam fortemente desapontadas com seus erros e como um pesadelo que se repetia, Arina estava novamente aos prantos e dessa vez, tanto na classificatória como na final.

Mas de tudo isso, ficam as belas apresentações artísticas no tablado, o frequente sorriso da ginasta em suas postagens no Instagram e os versos escritos abaixo:

Seria uma ginasta presa ao talento

Em seus movimentos de delicadeza?

Ninfa adversa ao puro relento

Regada pelo brilho da natureza

 

Não serão pinheiros que a guardarão

Seu balé adornado de feminilidade

Com a ginástica, seus fãs não se arrependerão

Atriz e bailarina goza de sua mocidade

 

Seja como boneca no vestido rendado

Ou a artista nas fitas e massas a encantar

Por ti, estou entregue suavemente enleado

No meigo sorriso e na inocência do olhar

 

O jeito gracioso de Tsitsilina

Na paz de seu palor e candura

É sua doce pureza de menina

Cristalina fonte de amor e ternura



Fonte: Avax.news


  •  Our Theatre of dreams
Infelizmente pouco posso escrever sobre esta poesia em si, a qual tenho vaga memória de qual dia ou evento era especificamente, apenas tendo a certeza de que se referia ao futebol feminino, o qual tive oportunidade de assistir por quatro vezes naquela Olímpiada, todas elas na Arena Corinthians em São Paulo. Destaco particularmente o ótimo futebol da Alemanha naqueles jogos, o qual pude acompanhar, por exemplo, o 6 a 1 aplicado sobre o Zimbábue na primeira partida dos jogos e que no final culminaria com o ouro das alemãs. A difícil vitória do Canadá sobre a França nas quartas-de-final e a triste partida da medalha de bronze, onde as brasileiras perderam também para o Canadá por 2 a 1, em uma segunda-feira, dia 19 de agosto, onde o estádio estava completamente lotado e o forte calor daquela tarde se confundia com a 'vibe positiva' que a torcida brasileira tentava passar para as jogadoras.

Outro momento curioso que ficou marcado na minha memória aconteceu na primeira ou segunda rodada da fase de grupos, na qual em um dos pontos da arquibancada atrás de um dos gols e mais especificamente bem próximo ao gramado, estava um casal de russos muito caracterizados com as cores do país, inclusive com a bandeira da Rússia e outros acessórios que também faziam menção ao país eslavo. Lembro que não conversei com eles naquela ocasião, mas a mera presença deles ali era bem curiosa, afinal a Rússia não participou do futebol feminino na Rio 2016, mas ainda sim muito bem-vinda. Ainda bem, que alguns dias depois eu teria uma segunda oportunidade de interação com os russos, na final do nado sincronizado por equipes, no qual à caminho do parque olímpico, pela primeira vez conversei com duas torcedoras russas e pude, por meio de uma 'selfie' eternizar aquele momento.

O dia que era tão aguardado

Com calma conseguiu chegar

Um momento deveras esperado

Finalmente conseguiu se realizar


Se uma jovem eu pude ajudar

O melhor estava por vir

Vi enormes pilastras ao chegar

A curiosidade estava a se esvair


Damas jogavam nosso popular esporte

Num torneio olímpico a ser disputado

A medalha de ouro era o norte

E o sequioso prêmio a ser almejado


Na volta, minha grata satisfação

Se escondeu diante de uma donzela

Ali o desejo provocava o caos e a confusão

Em olhares interrompidos pela janela


Tentei me conservar orgulhoso

Diante de um sonho realizado

Foi sim um dia maravilhoso

Da lástima o destino foi o culpado



fonte: Corinthians.com.br


  • Rio 2016
Para esta última poesia, não tenho muito o que escrever sobre, a não ser para dizer que cumpri o papel que desejava, que era o de homenagear o maior evento esportivo do mundo que havia acontecido no meu próprio país, trazendo nos versos alguns flashes dos principais momentos da Rio 2016 e da autoestima do povo brasileiro que durante aquele mês de agosto pode se inflamar de tantas conquistas, desde a organização do evento em si, até as medalhas conquistadas pelo Brasil e outras tantas conquistas individuais e coletivas.

Nossa grandiosa pátria amada

Injustiçada diante da desconfiança

Não se mostrou abalada

Estava esperançosa como criança


Nosso povo ficou mais miscigenado

Nas arenas o calor humano

De um evento globalizado

Para imortalizar esse ano


Era o mundo entre o carioca

Tão bem humorado e hospitaleiro

E a união de culturas que nos provoca

O orgulho que está em cada brasileiro


A conquista desse povo guerreiro

Se realizou ao ver a constelação

Cada qual preparado e vezeiro

Em nos trazer da disputa a emoção


Nas acrobacias de Biles a habilidade

Na despedida de Phelps a consagração

Em Neymar no Maracanã a dualidade

De um herói que fora do gramado era vilão


Do time brasileiro o orgulho nacional

De uma nação que sonhou e venceu

Pobre, humildade e desigual

Dos jogos nossa autoestima cresceu


Na despedida o mundo também se encantou

Nossa imagem com dedicação se elevou

Eis um legado esportivo que começou

No apagar da chama a saudade que ficou



fonte: Creative Bloq

domingo, 22 de agosto de 2021

Poesias com a temática olímpica - parte I

Pessoal, bem vindos novamente ao meu espaço literário pessoal para a volta do carro-chefe desse blog que são as poesias que desenvolvi ao longo desses oito anos, passando por meio dos versos a evolução do meu repertório pessoal, aliado às experiências e sentimentos ao longo desse período.

Dessa vez, a temática olímpica é o objeto desse post que será dividido em duas partes com três poesias cada. O objetivo, além da exposição da poesia em si é a de contextualizar brevemente o período no qual os versos foram escritos, com qual objetivo e o sentimento vivido naquele momento.

Nesse espaço do blog darei espaço somente à poesias que fazem referências aos atletas e esportes de verão, com foco para a própria olimpíada em si (e eventos preparatórios), para ser mais preciso a Rio 2016. 

Também destaco que nas próximas semanas pretendo trazer para este blog as "Prosas com a temática olímpica" e assim comentar crônicas, textos e romances que se originaram de acontecimentos e de personagens oriundos das Olímpiadas.

Para essa parte I teremos as seguintes poesias (escolhidas por ordem cronológica): A feminilidade do leste europeu, Poesia para Alana Goldie e Rosamaria da leira celestial, todas estas escritas em 2015.

Assim sendo, é hora de matarmos um pouco da saudade do espírito olímpico nas poesias a seguir e nos demais posts que virão!

Boa leitura à todos!


  • Poema para Alana Goldie
Nesse primeiro poema da série esportiva, assim como no segundo tópico desse post, tratam-se de versos escritos durante o evento esportivo Pan-americano de Toronto 2015 que ocorreu de 10 a 26 julho daquele ano e que casou muito bem com o período de férias que tive no meu primeiro ano de faculdade. Sendo assim, considero esses jogos pan-americanos como aquele que dei a maior atenção até os dias atuais (tenho poucas memórias quanto à Rio 2007), não só pelo período do evento ter sido muito propício à acompanhá-lo com maior proximidade, mas também pela sede em si dos jogos que aconteceram no Canadá, país esse que desde a infância tenho carinho muito especial.

Em relação à Alana Goldie estamos falando de uma atleta que competiu em casa pela esgrima e mais especificamente pelo florete feminino, ficando com o bronze daquela competição junto com Nicole Ross dos EUA, além de ter conquistado o ouro na competição por equipes. Alana já havia sido prata no pan de 2011 em Guadalajara e participou até mesmo dos jogos olímpicos de Tóquio 2020, em que ficou junto com a equipe canadense na quinta posição do evento por equipes. Abaixo vocês conferem a poesia que escreve em homenagem à essa esgrimista canadense.


Uma dama canadense está a encantar
Na foto sua infinita beleza e simpatia

Sorriso e elegância vêm pra inspirar

Um brilho dourado noite e dia


O vestido branco é o seu jeito angelical

Conquista-me sua pura feminilidade

Em seus traços a delicadeza real

Nos sapatos é mulher com sua sensualidade


Na rotina uma esgrimista talentosa

Que o Canadá está a defender

A espada se confunde com a dama formosa

Assim, campeonatos Alana irá vencer


Nas competições estou por ela a torcer

Nos momentos de gala está a me conquistar

Um estilo e jeito a me embevecer

E sua rara beleza sempre irei admirar



Fonte: Team Canada

  • Rosamaria da leira celestial
Para falar dessa atleta do vôlei brasileiro que talvez tenha sido a protagonista da campanha de prata em Tóquio 2020, precisaremos voltar também aos jogos pan-americanos de 2015. Infelizmente naquela ocasião o Brasil havia sido novamente prata numa final contra os Estados Unidos, mas em um contexto completamente diferente do atual. A seleção brasileira não levou para a competição algumas das suas principais atletas, priorizando outros eventos do calendário do vôlei em detrimento do pan. O resultado foi uma campanha mais discreta, por exemplo, com duas vitórias sofridas contra as atletas de Porto Rico por 3 sets a 2.

Apesar da campanha de prata que à época carregava uma grande expectativa em relação à um possível ouro, ao contrário de Tóquio 2020 em que no feminino o Brasil não era o grande favorito ao primeiro lugar da competição, o pan de 2015 foi uma oportunidade importante para o surgimento de jovens jogadoras que passariam a ser convocadas com cada vez mais frequência pelo técnico José Roberto Guimarães, como exemplo da própria Rosamaria, Macris, dentre outras.

Tendo revelado o contexto histórico e esportivo da época e lembrando que aquele pan foi a primeira oportunidade de assistir o desempenho de Rosamaria nas quadras, que a partir dali despontou para o cenário internacional do voleibol.  

Em um olhar catarinense

Com o belo semblante europeu

Seu sorriso convence

A alegria atinge o apogeu


Marcas da senhorita Montibeller

Nas quadras uma dama e sua finesse

Digna da culta Montpellier

Uma jovem e o charme que não fenece


Seu semblante traz tal harmonia

Que por ela a seleção se guiará

E o grande objetivo alcançaria

A glória olímpica se consolidará


Sua beleza mediterrânea

Que recende o perfume do palor

A flor e sua emoção espontânea

Rosa delicada e cheia de amor


Fonte: Site Puro Esporte


  • A feminilidade do leste europeu
A primeira poesia desse post remonta ao mês de setembro de 2015. Naquele momento eu passava alguns dias na casa da minha saudosa avó e lembro-me bem até hoje de numa despretensiosa troca de canal na TV que ela possuía no quarto dela me deparei com uma Copa do Mundo de Ginástica Rítmica em Stuttgart. Lembro também que meses antes tivemos o Pan-americano de Toronto, como contei brevemente nas duas poesias anteriores e creio que naquele momento eu tenha dado muito mais atenção para a Ginástica Artística (mais famosa no Brasil) do que a Rítmica em si.

Essa ordem, no entanto, fora invertida após o Mundial de Stuttgart, onde percebi pela primeira vez que a RG (Rhythmic Gymnastics) era dominada quase que completamente pelos países do leste europeu e assim lideradas pela Rússia que tinha a hegemonia do esporte há muitos anos.

Essa foi a faísca do insight necessária para que não só eu passasse a acompanhar o esporte mais de perto até a Rio 2016, como também que eu pudesse a partir da história individual de cada atleta, construir verdadeiros enredos, especialmente no estilo das crônicas e cuja inspiração também deixou de legado a poesia escrita abaixo, no desenrolar daquele Mundial de RG.

 

 No auge da grata jovialidade

Que a mãe-Rússia forneceu

Às filhas regadas pela feminilidade

E pelo talento que me embeveceu

 

Da Rússia vêm a perfeição

A arte da ginástica e a exuberância

Kudryavtseva com a sequidão

Nela vejo a vitória como ânsia

 

Fascina o intenso olhar da ucraniana

Rizatdinova e sua notável grandeza

Postura de uma “nobre palaciana”

Na elevada rigidez de sua beleza

 

A lua é iluminada no Azerbaijão

Pela musa Marishka a estrelar

Sua simpatia nessa notável nação

Nos emocionará por onde passar

 

Essas donzelas estão a me encantar

Os nobres movimentos passam a leveza

Na arte da ginástica a nos apaixonar

Com tamanha harmonia de princesa

 

Sua beleza mediterrânea

Que recende o perfume do palor

A flor e sua emoção espontânea

Rosa delicada e cheia de amor



Fonte: Site Surto Olímpico

domingo, 4 de julho de 2021

Músicas russas com a temática histórica e literária - parte II

Sejam todos bem-vindos novamente!

Nessa parte II do post "Músicas russas com a temática histórica e literária" pretendo tratar de mais quatro nomes conhecidos da música pop russa: Polina Gagarina (já listada na primeira parte do post com a música кукушка), Alexei Vorobiov, Loboda e Grigory Leps.

  • Я тебя не прощу никогда

Trazendo novamente aqui uma canção da minha cantora russa favorita, Polina Gagarina, cujo título pode-se traduzir como "eu nunca vou te perdoar". É claro que pelo título em si já se percebe que o conteúdo em si da letra está voltada à temática do sofrimento amoroso, algo característico de muitas músicas dessa cantora pop, como se vê, por exemplo, em "Выше головы" (acima da cabeça), sendo esta uma canção também inclusa nessa mesma temática e que fizera grande sucesso em 2018. Vale lembrar inclusive que essa canção esteve (assim como algumas que citarei mais abaixo) no rol daquelas que marcaram o período no qual estive na Rússia naquele mesmo ano de 2018.

A música 'Я тебя не прощу никогда' fora um dos primeiros grandes sucessos de Polina, cujo videoclipe fora lançado no Youtube em outubro de 2013 pelo canal 'StarPro', no meu caso algum tempo antes de conhecer qualquer música de Polina ou mesmo russa em geral.

A temática do videoclipe voltada à ideia do circo "à moda antiga" contrasta com a própria ideia central (de tristeza) da letra e apesar de não ter trazer nenhuma referência histórica ou literária velada, possui em suas próprias cenas a ideia de nostalgia em relação às apresentações circenses de tempos antigos. Ainda no século XIX, em alguns contos de Tchekhov, por exemplo, é possível mergulhar acerca da realidade das apresentações circenses, seus espectadores e, principalmente os protagonistas daquelas apresentações artísticas, sejam eles os animais treinados ou os próprios artistas do evento.

Para quem se interessa pela temática circense, cuja tradição vem perdendo espaço nas grandes cidades a cada ano, certamente verá um alento na forma como o videoclipe foi produzido. E sem mais delongas vamos ao clipe da cantora pop russa que pode ser conferido abaixo:

Polina Gagarina - Я тебя не прощу никогда


  • О чем ты думаешь

Com relação à este próximo clipe eu poderia até dizer que seu enredo daria um ótimo filme ou seriado, mas de fato, o clipe foi pensado dentro dessa ótica, para atender à um seriado da televisão russa chamado "Тайна кумира" (O segredo do ídolo), como a trilha sonora deste. Além disso, a própria letra da música foi baseada nos versos do compositor e poeta soviético Robert Rozhdestvensky, tendo este vivido entre os anos 1932 e 1994 e sendo uma referência da poesia lírica soviética, mesmo em meio ao "realismo soviético" que era praticamente a corrente artística hegemônica na União Soviética nos anos 50 e 60.

Quanto ao cantor russo Alexei Vorobiov, trata-se de um artista jovem, natural da cidade de Tula e atualmente com 33 anos. Este se notabilizou a partir do programa 'X-factor russo' e também se apresenta com o nome artístico 'Alex Sparrow'. Apesar disso, devo dizer que o seu nome é bem menos 'unânime' entre os russos se comparado ao de Polina Gagarina ou outros artistas que estarão presentes nesse mesmo post. Ainda sim, na minha opinião, é possível encontrar boas músicas e videoclipes, principalmente naquele típico tema do "romance adolescente", com suas aventuras, altos e baixos.

A música a ser tratada nesse post é datada de 2016 e sua letra novamente se baseia na temática romântica, mas dessa vez, no campo da exaltação sentimental e não somente na desilusão em si, como no primeiro tópico do post (apesar das notas musicais remeterem à um clima de nostalgia e tristeza). Ao mesmo tempo, o clipe levanta reflexões sobre os mistérios femininos, trabalhando com a dualidade de se alimentar desejos para com a pessoa amada e ao mesmo tempo colocando o "lado misterioso e reservado" de sua amada como um obstáculo para a realização de suas ambições amorosas. Também vale lembrar que a tradução do título "О чем ты думаешь" seria algo como "sobre o que você está pensando", o que por si só revela a pergunta central da letra, por consequência dessa dualidade que mencionei acima.

Apesar de a letra em si ser um ponto alto da música, visto que esta teve origem no consagrado poeta soviético Robert Rozhdestvensky, coloco como grande destaque o videoclipe em si, com a reunião de cenas que retratavam a realidade da Moscou soviética, mesclando com cenas "atuais e adaptadas ao cenário, figurino e estilo soviético" protagonizadas pelo próprio Vorobiov e contando com a participação especial de uma das principais atrizes russas da atualidade, Kristina Asmus, que não à toa é a protagonista de "Тайна кумира", e que representa no enredo a solista Olga Torres, enquanto Vorobiov interpreta em seu clipe o cantor soviético Ruslan Volgin.

O clipe em si vale muito a pena ser assistido, principalmente pelos fragmentos históricos de uma realidade soviética vivida a partir dos anos 80 (sendo esta a cronologia do seriado Тайна кумира, mais especificamente no ano 1980), podendo ser sentida mesmo que em poucos segundos por um valioso acervo de filmagens feito à época, além de algumas amostras sobre o que o espectador irá encontrar em "O mistério do ídolo", tendo também a oportunidade de conhecer mais um pedaço da sociedade e história da Rússia e da antiga União Soviética.

Alexei Vorobiov - О чем ты думаешь



  • Лети

O vídeoclipe que será apresentado a seguir, assim como no caso anterior sobre a música de Vorobiov, também faz menção à dramaturgia russa, mas dessa vez, relacionada à um filme elaborado em trilogia, cuja canção foi realizada para se tornar a trilha sonora do segundo deles: "Гоголь. Вий" ou Gogol Viy, sendo que o nome "Viy" se dá a partir de um dos famosos contos de terror do aclamado contista e romancista russo/ucraniano (existem disputas sobre a origem do escritor quanto à sua nacionalidade) Nikolai Gogol.

A trilogia filmada entre 2017 e 2018 reúne e traduz para o formato audiovisual alguns dos mais famosos contos de terror de Gogol, trazendo a marcante característica de suas obras sobre o mundo do "fantástico" para as telas. Apesar de Gogol ser muito conhecido pelos consagrados contos de comédia como "O nariz" ou "O capote", no entanto, vale mencionar que ao contrário dessas duas obras, no caso dos contos selecionados para a criação dos filmes, além de trabalharem com a temática do terror, o próprio Gogol é o protagonista de suas próprias histórias atuando como detetive das mesmas e sendo o encarregado entre o diálogo do "mundo real" com o "mundo do fantástico" e assim, atuando como este interlocutor é que o romancista passa a investigar casos que não possuem explicação na mera racionalidade ou mundo convencional que enxergamos no dia-a-dia. É como se o próprio autor se colocasse na narrativa como alguém que consegue enxergar um horizonte além do que os seus outros colegas humanos conseguiriam, algo como um dom sobrenatural e peculiar de Gogol. Assim podemos dizer que o próprio Gogol se eleva ao grau do "fantástico" junto à outros personagens criados pelo autor dentro da trama, expondo até mesmo dramas familiares durante a narrativa em si. Não à toa, Gogol foi considerado à época um dos escritores russos mais polêmicos por sua autenticidade em seu jeito de elaborar contos e romances.

Quanto à cantora ucraniana (mais uma artista dessa nacionalidade que assim como Ani Lorak ganhou o mercado russo) Svetlana Loboda, trata-se de uma das principais artistas pop que hoje atuam em solo russo com suas músicas se encontrando frequentemente entre as mais tocadas das "paradas russas de sucesso". Loboda começou sua carreira musical por volta dos 18 anos e com 26 representou seu país natal no concurso europeu Eurovision, ganhando à época notoriedade também no cenário internacional.

Seu álbum H2LO, lançado em 2017 pela Sony Music representou um grande sucesso nas paradas de sucesso da Ucrânia e Rússia, especialmente com as canções: "K chyortu lyubov"; "Tvoi glaza"; "Tekila-lyubov" e "Sluchaynaya". Tanto essas canções como os singles "Paren" e "SuperStar" foram um grande sucesso no país enquanto estive em viagem em junho de 2018 e era comum notá-los tanto entre os "tops da TV russa" como nas rádios e nos bares, baladas e casas noturnas das grandes cidades do país, tais como Moscou, São Petersburgo e Kazan. É interessante notar que toda essa vivência nos ambientes e com diferentes pessoas daquele país, aliados às músicas que mencionei anteriormente, me trouxeram parte de um importante caldo cultural em um repertório muito útil para escrever alguns dos meus contos, histórias e textos algum tempo depois.

Mas para não fugir ao tema fecho aqui este parênteses e deixo abaixo o videoclipe "Лети" (voar), o qual recomendo fortemente para os fãs de literatura como sendo um clipe muito bem produzido e instigante com relação direta ao filme "Гоголь. Вий", bem como indico fortemente as demais músicas acima para quem curte a temática pop puxada para o lado da música eletrônica, para se sentir um pouco da atmosfera de uma noite moscovita, por exemplo.

E por último, tratando sobre a letra em si, trata-se basicamente de uma música romântica que dialoga com o filme "Гоголь. Вий" especialmente na parte final, quando a composição faz menção à um "círculo branco", que de fato está presente no filme e no videoclipe, mas que na letra possui a analogia de ser como um "domo protetor daquele romance", enquanto na história de Gogol, o círculo desenhado pelo próprio autor e personagem possui um significado diferente, no sentido ser um símbolo na luta contra "as forças do mal".

Svetlana Loboda - Лети



  • Вьюга

No último videoclipe tratado nesse post irei comentar brevemente sobre um dos maiores cantores russos da atualidade, Grigory Leps. Ele que assim como Valery Meladze também possui origem georgiana e atualmente está com 58 anos. Após deixar uma perigosa juventude na qual esteve acometido parte dela no hospital, por conta de problemas de alcoolismo e drogas, Leps lançou diversos sucessos ao longo dos anos 2000, alternando entre pop e rock, mas quase sempre dentro da temática romântica.

Entre as músicas que mais me marcaram vindas da discografia desse artista posso destacar especialmente os duetos como: "Я тебе не верю" com Irina Allegrova, "Она не твоя" contando com a participação de Stas Piekha, "Обернитесь" com o consagrado Valery Meladze, "Лондон" com Timati e "Зеркала" com a famosa cantora ucraniana Ani Lorak.

Em relação à "Вьюга" trata-se de um clipe gravado em 2006, quando Leps estava em seu décimo primeiro ano de carreira musical, sendo que seu primeiro videoclipe de grande sucesso musical havia sido "Натали" em 1995, período no qual o cantor e compositor russo ainda enfrentava sérios problemas de saúde.

No clipe em si, além da inconfundível e pujante voz de Grigory Leps e da belíssima participação de uma orquestra nos acordes da música, é impossível não reparar na intertextualidade que o script do videoclipe realiza com os famosos contos de terror de Gogol e sua lenda "do cavaleiro amaldiçoado sem cabeça" que aparece tanto no clipe descrito no tópico anterior (Лети) como em Вьюга, inclusive com o protagonista/mocinho deste último tendo forte semelhança em aparência com o personagem do próprio Gogol, interpretado por Aleksandr Petrov, na mesma trilogia de filmes realizada entre 2017 e 2018 e mencionada em com mais detalhes no tópico anterior.

A letra de "Вьюга" refere-se à uma temática muito cara à Leps que é a do sofrimento amoroso e apesar do texto musical dialogar com o clipe em relação à intensidade do inverno russo e como este se conecta com a catarse amorosa, especialmente na distância e consequente sofrimento que o "eu lírico" está vivendo para com sua amada. No entanto, é importante mencionar que ao contrário do clipe de Svetlana Loboda, a canção de Leps não foi criada com o intuito de ser uma trilha sonora de filme, sendo que a própria letra de "Вьюга" não faz qualquer menção clara e direta aos aspectos simbólicos da narrativa de Gogol como fora apresentado em "Лети".

Segue abaixo o videoclipe de "Вьюга" (tempestade de inverno) do cantor russo Grigory Leps, sendo este a última da minha lista de oito músicas russas com a temática histórica e literária trazidas para este blog.

Grigory Leps - Вьюга


sábado, 29 de maio de 2021

Músicas russas com a temática histórica e literária - parte I


 Meus caros!


Venho por meio deste post trazer a temática de clipes musicais russos que se conectam de algum modo com a própria história russa, seja por meio de paisagens, arquiteturas, figurinos e personagens históricos, ou pela correlação com algum período histórico em específico e até mesmo conexões com a própria literatura russa, da qual pretendo tratar especialmente na parte II do tema em questão.

  • Королева Марго

Confesso que a ideia para trazer este tema ao blog veio à primeira vista pela descoberta (acidental) de um clipe recente da banda Uma2rman chamado 'Королева Марго' (Rainha Margô). Era um momento no qual eu estava a acompanhar por alguns minutos um canal de televisão russa dedicado às canções daquele país e as internacionais. De repente, me deparei com um enredo embalado por uma bela melodia que por diversos momentos traçava conexões entre um passado distante, ainda imperial, com o nosso século XXI. Os mesmos atores, o mesmo romance, em diferentes épocas e contextos históricos.

A descrição do clipe, a qual vou inserir abaixo junto com o vídeo em si, sugere que o amor quando guiado pelo destino tem o poder de atravessar o tempo. Essa citação, inclusive, me recorda uma canção de Jorge Vercillo chamada "Regressão" que também traz essa temática envolvida em seus versos, de um personagem que perpassa por importantes momentos da história humana e em todos eles se mostra guiado pelo amor em relação à sua musa inspiradora.

O gatilho da história se dá a partir da visita de uma moça comum à um museu em São Petersburgo, de onde é levada por uma guia turística que se encarrega em sua missão cotidiana de levar os visitantes do local a entenderem a natureza das obras presentes ali. Uma leve distração da própria guia leva a moça a se encontrar, dentro de uma sala vazia, frente a frente, com a sua "versão imperial", momento no qual a narrativa dá especial enfoque ao período czarista, dialogando quase sempre com nossos tempos atuais.

Abro aqui um rápido parênteses de que na minha opinião pessoal não existe cidade melhor do que Peter (como é carinhosamente conhecida) para traçar esses paralelos entre a realidade do século XXI e a vivida nos tempos czaristas. Visitar essa cidade é uma verdadeira "volta ao tempo" e em outra oportunidade posso comentar o quanto a minha visita à Peter, especialmente ao Hermitage e quanto estive próximo dele, me fez voltar em meu subconsciente aos tempos czaristas de forma tão especial e conectada ao meu romance "A czarina e o enxadrista". 

Quanto ao clipe 'Королева Марго', o considero como uma verdadeira "novela de época" em formato de clipe musical que traz o fascinante diálogo de peças de um museu com um "romance czarista" que, por sua vez, dialoga com a história de amor contemporânea.

"Любовь, назначенная судьбой, существует вне времени. И те, кто однажды обрёл друг друга, обязательно встретятся снова." (O amor designado pelo destino existe além do tempo. E aqueles que um dia se encontraram certamente se encontrarão novamente.)


Uma2rman - Королева Марго



  • О любви иногда говорят
A música do consagrado cantor russo, Alexander Malinin, cujo título poderia ser traduzido mais ou menos como "o amor às vezes é falado", como o próprio nome já diz, também está voltado à tratar sobre o tema do romance, e cuja letra busca demonstrar o quão instável, imprevisível e incontrolável pode ser esse sentimento e a tentativa de preservá-lo à todo custo, dialogando inclusive com elementos da natureza como a primavera. Aliás, pode-se dizer que existe um costume muito interessante entre os russos (e algumas músicas como Цвет настроения синий não me deixam mentir) de associar cores e estações do ano ao humor que estas sentem em seu dia-a-dia, em que cada uma delas tem o seu significado próprio traduzido às emoções cotidianas.

Mas voltando ao clipe de Malinin, aqui temos novamente um formato de "novela clássica", cujo enredo dialoga em seus elementos visuais com a própria letra da música, criada em 2013 a partir de uma poesia de Михаил Гуцериев (Mikhail Gutseriev) e transformada em clipe no ano de 2018.

Nesse caso, me impressionou especialmente a metamorfização de todos esses elementos inerentes ao amor em um enredo que leva o espectador, além do clássico "voltar ao tempo", em um contexto em que estão presentes algumas doses de 'terror' advindas da mitologia eslava, intercaladas com o romance em si, como também traz a ideia de que o amor está acima das "leis do homem" e da própria natureza humana, e seguindo essa linha tais sentimentos e sensações são levadas ao extremo no romance dos personagens envolvidos no videoclipe. 

Inclusive, para quem já teve a experiência de ler algum conto de terror russo do século XIX, especialmente de Gógol (que abordarei na parte II desse post), ou mesmo teve a oportunidade de assistir um "filme russo de época" cuja temática mesclava-se entre o terror e o romance certamente enxergou alguma intertextualidade entre o enredo do clipe em si e os consagrados contistas russos.

Abaixo reproduzo as palavras do cantor Alexander Malinin sobre a importância do poeta Mikhail Gutseriev e seus "poemas filosóficos" que permitiram que tanto essa como outras canções russas de renome pudessem ser lançadas a partir dos seus versos.

«Мы сделали шедевр! Я благодарен Михаилу Гуцериеву за глубокие философские стихи, ставшие основой одного из самых эмоциональных романсов современности». (Nós fizemos uma obra-prima! Sou grato a Mikhail Gutseriev pelos profundos poemas filosóficos que se tornaram a base de um dos romances mais emocionais da atualidade)

Александр Малинин - О любви иногда говорят



  • вопреки
Os próximos dois clipes que tratarei nesse post foram feitos como trilha sonora de filmes famosos russos que também possuem dentro deles a temática histórica e que eu diria até que considero, inclusive, como os meus dois favoritos se tratando da minha ainda recente bagagem cinematográfica russa. O primeiro deles que destaco nesse tópico tem como protagonista um dos cantores mais admirados em todo o território russo e que ao mesmo tempo possui origem georgiana, chamado Valery Meladze. 

A música em si é a mais antiga a ser comentada neste post, feita no ano de 2008 pela produtora musical 'Velvet Music' e lançada no canal do Youtube da 'Ello' que até alguns anos atrás era uma espécie de 'Vevo' russa, a qual inclusive devo muito dos meus primeiros passos dentro da musicografia russa e ucraniana, lá pelo final de 2014. Uma estrada sem volta que começou com Maksim, Vremya i Steklo, Ani Lorak e o próprio Meladze, e que posso contar um pouco mais em detalhes em outra postagem nesse blog.

Mas voltando à canção вопреки, esta foi realizada com o intuito de servir como trilha sonora do filme Адмиралъ, ou 'O almirante' em português. Como diz o título do filme, o enredo trata da história de um militar da marinha russa desde o combate no qual participou pela primeira guerra mundial, passando por sua boa relação regada à confiança com o czar Nicolau I, até aos problemas com o governo provisório de Kerensky e por último sua participação na guerra civil russa, em que participou da resistência contra os bolcheviques à época.

Recomendo fortemente o filme que pode ser facilmente encontrado com legendas em português no próprio Youtube e que para mim constituiu a junção de um enredo fascinante, didático e imersivo sobre a história russa, com a soundtrack de um dos melhores cantores da história do leste europeu.

Em relação ao clipe em si, trata-se como uma boa e típica trilha sonora, de um aperitivo com cenas da própria obra cinematográfica com um mix de participações do cantor georgiano, como se o mesmo também estivesse presente no enredo do filme como um dos protagonistas (ainda que isolado pela forte nevasca e pelos flagelos da guerra em suas cenas) da guerra civil russa.

Uma curiosidade interessante também é que no próprio clipe é possível ver algumas cenas da famosa atriz russa Elizaveta Boyarskaya que protagonizou o papel de Anna Karenina no filme 'Anna Karenina: A História de Vronsky', adaptação da grande obra prima de Tolstói. Vale lembrar que essa é a atriz que está presente em um dos papeis de protagonista do romance, junto com o próprio almirante que dá nome ao filme.

Deixo abaixo o vídeoclipe da música вопреки que também deu nome ao próprio álbum que Meladze elaborou naquele ano de 2008, que tinha outras músicas tão ou mais consagradas quanto, tais como: Салют, Вера; Без суеты; e Верни мою любовь (sendo esta a primeira música que conheci de Meladze, em uma parceria dele com a cantora ucraniana Ani Lorak). 


Валерий Меладзе - Вопреки

  
  • кукушка
Por último e neste caso, eu preferi deixar a melhor música para o final desse post! Trata-se não somente da melhor canção dessa lista, como a minha preferida de todas as canções russas que ouvi até hoje (também a mais popular com cerca de 208 milhões de visualizações no Youtube). Aqui novamente estamos falando de uma música que foi trilha sonora de um filme também relacionado com guerra, mas dessa vez com a 2ª Guerra Mundial, ou Grande Guerra Patriótica para os russos.

Começo aqui fazendo um breve resumo sobre a cantora russa Polina Gagarina que regravou esse sucesso em 2015, até então conhecido pela voz do também consagrado Viktor Tsoi. Tive a oportunidade de conhecer Polina naquele mesmo ano em apresentação do concurso musical 'Eurovision', no qual a cantora terminou na segunda posição, atrás do sueco Måns Zelmerlöw. A impressionante performance de 'A Million Voices' foi o suficiente para que eu decidisse mergulhar em suas obras artísticas e encontrar com grande facilidade, o que era apenas um sucesso recente à época, кукушка, que em português significa cuco.

Poderia passar horas aqui descrevendo a intensidade e a grandeza daquela performance, mas prefiro destacar que todos esses atributos se encaixaram perfeitamente no filme 'Битва за Севастополь' (A batalha de Sebastopol) e que acima de tudo fizeram com que o espectador, por meio de sua brilhante atuação, pudesse sentir essa mistura de sensações e arrepios entre a performance de Gagarina com a trajetória épica e heroica da atiradora soviética Lyudmila Pavlichenko, uma das mais brilhantes de seu tempo. Eis mais um exemplo de uma grandiosa biografia que consegue ser ainda mais enaltecida com uma interpretação musical à altura de todos os dramas, sofrimentos, coragem e patriotismo que uma guerra tão cruel quanto aquela pode trazer ao enredo do filme. Mais do que uma simples lembrança de uma terrível história que quase toda família russa e que tantos outros povos viveram e protagonizaram, é também assim como na guerra civil russa, um resgaste da memória do país e a lembrança daqueles que lutaram por ele.

Escolhi a data de 12 de junho de 2018 para assistir ao filme em questão e não tinha data mais simbólica dentro da minha trajetória pessoal do que a véspera da minha chegada à Moscou. Foi ali mesmo na poltrona do avião, com o celular posicionado em uma das mãos, que pude sentir toda a energia e coragem que precisava e dela pude me fortalecer e me alimentar para passar todos aqueles dias que estavam diante de mim e todos os seus desafios subsequentes que conto em detalhes no livro 'Memórias da Rússia'.

Segue abaixo o videoclipe mais especial, sendo este a trilha sonora do melhor filme russo que assisti em minha vida, na performance musical da minha cantora russa preferida. Em suma, uma obra-prima!

Полина Гагарина - Кукушка