Pesquisar este blog

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Top 5 - temas de cinema

    Para fechar o ano de 2023 com o último post do blog 'Arte e Multiculturalismo', optei por dedicar este espaço para as clássicas e contemporâneas trilhas sonoras de cinema, protagonizadas por diferentes artistas, desde nomes conhecidos internacionalmente no pop e na música clássica como Josh Groban e Andrea Bocelli, respectivamente, até gratas relevações como Lakshmi, artistas como Patrick Swayze e 'conceituados nomes de nicho', como é o caso de Carly Paoli entre os cantores de formação clássica ou a Metropole Orkest, uma importante e renomada orquestra holandesa que tratei no post anterior, cujo link deixarei abaixo:

https://arteemulticulturalismo.blogspot.com/2023/12/versoes-de-orquestra-de-musicas.html  

    A inspiração para este tema veio lá de agosto, mais especificamente do concerto que presenciei na Sala São Paulo em sua série 'matinais', com a Brasil Jazz Sinfônica tendo como tema as composições clássicas do cinema italiano. Nessa playlist não trarei nenhuma dessas canções, mas posso mencioná-las no futuro se desejarem.

    Boa leitura e boas festas!


  • LAKSHMI and Metropole Orkest - No Time To Die

    Nessa primeira escolha, temos um conjunto de uma orquestra que aprendi a virar fã, graças a um memorável concerto da cantora de jazz holandesa Caro Emerald, com uma das franquias mais aclamadas do cinema e uma das minhas preferidas, na performance da revelação também holandesa LAKSHIMI que se autodenomina cantora de 'pop noir'.

    O concerto regido por Jules Buckley e denominado 'Avond van de Filmmuziek' foi realizado neste ano e teve por objetivo trazer ao palco diferentes artistas para que sob os acordes da Metropole Orkest transformassem grandes trilhas do cinema em uma experiência rica e intensa, mergulhada no universo da música de orquestra.

    Vale lembrar que a versão original da música, cujo nome é o mesmo do filme lançado em 2021, é cantada por Billie Eilish, mantendo a característica original das trilhas sonoras da franquia 007 em trazer os 'artistas do momento' para gravarem composições ligadas ao enredo de James Bond. Outra curiosidade interessante é que o palco para esse espetáculo foi a Ziggodome em Amsterdam, a mesma arena em que Simply Red gravou o álbum 'Symphonica In Rosso', lançado em 2018 e que também tratei no post cujo link encontra-se no início deste texto.




  • Por Una Cabeza - Andrea Bocelli

    Para essa próxima escolha, temos um clássico do cinema aliado à um tango icônico protagonizado por um dos maiores tenores da atualidade.

    A música 'Por Una Cabeza', gravada por Andrea Bocelli em seu álbum 'Cinema' (2015) e composta originalmente pelo argentino Carlos Gardel em 1935, se tornou tema do filme 'Perfume de Mulher' (Scent Of A Woman), lançado em 1992 e tendo como protagonista o célebre Al Pacino, em que o mesmo viria a ganhar o Oscar de Melhor Ator no ano seguinte pela perfomance, além de ter vencido o Globo de Ouro como 'melhor filme' e 'melhor roteiro - drama'

    O álbum de Bocelli que conta com participações de Ariana Grande e Nicole Scherzinger, traz grandes trilhas sonoras de cinema como 'West Side Story' (Amor Sublime Amor), 'Evita', 'O Poderoso Chefão' e muitos outros, tendo sido bem recebido pela crítica, conseguindo o décimo lugar na Billboard Top 200 e o primeiro lugar entre os álbuns clássicos em 2016, além de terceiro lugar na Irlanda, quarto na Itália e posições de destaque em Portugal e Austrália.


  • All I Ask For You - Josh Groban & Kelly Clarkson

    Um filme que também se fez presente no álbum cinema de Andrea Bocelli, mas que trarei sob a ótica de dois renomados artistas do pop, é 'O fantasma da Ópera', de 2004, protagonizado por Gerard Butler  e baseado no romance francês 'Le Fantôme de l'Opéra' de Gaston Leroux e que também veio a se tornar um dos musicais mais renomados da história.

    A obra, indicada ao Oscar e Globo de Ouro em diversas categorias, possui diversas canções em seu enredo como 'The Music of The Night', cantada por Bocelli, e 'All I Ask For You', protagonizada pelo dueto no vídeo abaixo por Kelly Clarkson que dispensa apresentações, sendo esta uma das maiores cantoras do pop estadunidense da última década e Josh Groban que embora não tenha o mesmo renome, esteve presente em importantes eventos como o encerramento dos Jogos de Inverno em 2002 - Salt Lake City, o prêmio Nobel da Paz naquele mesmo ano, sendo que os críticos musicais se dividem ao classificá-lo entre tenor ou barítono.

    Enquanto no caso de Kelly Clarkson pude descobrí-la ao final dos anos 2000 nos clipes da MTV e nas rádios pop, em Josh Groban descobri a música 'Brave' em 2013, através da rádio Antena 1. A música foi o grande sucesso do álbum 'All That Echoes', classificado como sendo do gênero 'pop operático' (tema de música clássica estilizada como pop), e que chegou ao primeiro lugar na Billboard 200 naquele mesmo ano.

 

  • She's Like the Wind - Patrick Swayze

    Neste tópico trarei a trilha de um dos filmes mais 'musicais' da história do cinema. 'Dirty Dancing' foi lançado em 1987, com canções icônicas como '(I've Had) The Time of My Life' (que ganhou o Oscar de melhor trilha sonora naquele ano) e 'Hungry Eyes', além de 'She's Like the Wind', protagonizada pelo ator Patrick Swayze para a narrativa.

    A parceria que contou com vocais de Wendy Fraser, foi um grande sucesso de crítica naquele ano, tendo atingido o terceiro lugar na 'Billboard Top 100', o primeiro lugar no Canadá, além de posições de destaque em países como Irlanda e Austrália.

    Vale destacar que a presença de Swayze rendeu diversas nomeações nos prêmios concedidos pelas academias de cinema, tendo participado do marcante 'Ghost' (1990) que venceu os prêmios do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante com Whoopi Goldberg e Melhor Roteiro para Bruce Joel Rubin.



  • Carly Paoli - Never Enough
    A última música escolhida para este post está longe de fazer frente às escolhas anteriores em termos de prestígio, número de visualizações e premiações, tanto por parte da música como da artista em si. A preferência neste caso ocorre pelo meu desejo de prestigiar um lindo álbum lançado há poucas semanas pela excelente cantora britânica Carly Paoli, chamado 'The Movie Collection' e que naturalmente tem tudo a ver com a temática que trato aqui.

    O álbum que conta com grandes sucessos de trilhas sonoras de cinema como 'Pure Imagination' (A Fantástica Fábrica de Chocolate), 'Moon River' (Bonequinha de Luxo), 'La Vie En Rose' (Prêt-à-Porter), 'Wonderful World' (Bom dia Vietnã) e tantos outros, me chamou atenção em especial na música 'Never Enough' em sua excelente perfomance vocal em uma canção que transita entre o pop e o classico. É curioso que ao ouvir essa canção na voz de Paoli logo fui remetido à temática de apresentações da patinação artística. Não me lembro ao certo a primeira vez que ouvi essa música em uma perfomance de algum(a) patinador(a), mas sei que este é um tema musical recorrente nas competições que envolvem este esporte.

    O origem da música remonta ao filme 'O Rei do Show' de 2017, protagonizado por Hugh Jackman, e que venceu no ano seguinte O Globo de Ouro com a canção 'This Is Me' de Keala Settle. 'Never Enough', cantada originalmente por Loren Allred também teve uma participação discreta nas paradas de sucesso tal como 'This Is Me', tendo conseguido como melhor resultado um discreto 39º lugar na Irlanda.

    Importante mencionar que 'Never Enough' é até hoje o maior sucesso de Allred no universo musical em sua jovem tragetória que também inclui uma participação no álbum 'Love' de Michael Bublé com a música 'Help Me Make It Through the Night' e a escolha de Paoli em trazer em seu álbum essa canção, junto à tantos clássicos do cinema mencionados acima, mostram a beleza na letra, nos acordes e na própria voz de Paoli.

    Abaixo o vídeo com 'Never Enough' de Carly Paoli e posteriormente a perfomance da patinadora russa Daria Usacheva no Skate America 2021, tendo como tema a versão original da música cantada por Loren Allred.





sábado, 2 de dezembro de 2023

Versões de orquestra de músicas populares

Neste post, trago para vocês cinco músicas de diferentes artistas e bandas, em língua inglesa e portuguesa, que foram regravadas em versões com a presença de orquestra, seja ela sinfônica ou jazz. Foram escolhas muito difíceis e confesso que imaginei pelo menos umas dez opções, antes de finalizar em cinco delas na dura missão de eliminar algumas antes de ter a versão final do texto.

Já quanto à escolha de trazer este tema ao blog, esta decorre não somente do fato de atualmente eu fazer parte de uma Organização Social (Santa Marcelina Cultura) responsável pela gestão da Orquestra Jovem Tom Jobim, Orquestra do Theatro São Pedro e as demais orquestras e grupos musicais formados pelos alunos do projeto cultural Guri. Naturalmente as minhas conexões com tais corpos artísticos se tornaram cada vez mais estreitas nos últimos meses, ressaltando inclusive os diversos eventos, concertos e apresentações que dialogam com a música popular brasileira (MPB), a qual poderia citar diversos exemplos que foram desenvolvidos neste ano de 2023 e que tive a honra de assistir a alguns deles.

Mas o meu amor e fascínio por essa combinação entre música popular, seja ela MPB, jazz, pop ou outros ritmos e a dinâmica de uma orquestra, começaram há cerca de seis anos atrás, quando descobri por intermédio do meu antigo trabalho na Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo (antiga Secretaria de Cultura), a existência da Brasil Jazz Sinfônica, à época administrada pelo Instituto Pensarte e atualmente pela Fundação Padre Anchieta.

Foram diversas as apresentações que tive a oportunidade de acompanhar seja pessoalmente ou pelo Youtube, em parcerias com artistas consagrados como Paulinho da Viola, Marcos Valle, Stacey Kent, Ivan Lins, Roberta Sá, Lenine e tantos outros. Foi nesse ambiente de parceria entre o poder público e o terceiro setor, em concertos que presenciei na Sala São Paulo que pude compreender e sentir não só a sofisticação que os acordes de orquestra podem trazer para uma música popular (de vários estilos diferentes) como também a riqueza de sons e a criatividade de se elevar ainda mais músicas já consagradas pela crítica e pelos fãs.   


  • Your Mirror (Symphonica in Rosso) - Simply Red

Começamos com uma música que foi lançada em 1992 e reinventada na apresentação que o grupo britânico Simply Red realizou na Ziggo Dome, em Amsterdam no ano de 2017 e que no ano seguinte se transformou no álbum Symphonica in Rosso, composto por vinte músicas de composição da banda e sucessos de Frank Sinatra como 'All or Nothing at All', 'My Way' e 'It Was a Very Good Year'.

Apesar do desempenho discreto nas paradas de sucesso e também considerando que o álbum não trouxe nenhuma nova música da banda, os arranjos de orquestra deram uma nova energia para um dos sucessos mais consagrados na trajetória musical de Simply Red.



  • Take Me Home (Orchestral Disco Version) - Sophie Ellis-Bextor

A cantora britânica Sophie Ellis-Bextor foi uma grata surpresa que apareceu a mim neste ano de 2023, inicialmente como uma recomendação do algoritmo do Youtube, com o maior sucesso de sua carreira, 'Murder On The Dancefloor'. Após ouvir a canção que reunia uma mistura de disco music com pop e música eletrônica, descobri diversas composições muito interessantes, inclusive com regravações de sucessos de outros artistas como 'Our House' do Madness, 'Lady (Hear Me Tonight)' do Modjo e 'Crying At The Discoteque' do Alcazar, cujos acordos certamente lembram um grande sucesso disco chamado 'Spacer' do grupo francês Sheila, B. Devotion, gravado em 1980. 

Aos cantores, instrumentistas e demais aficionados pela música recomendo fortemente 'Music Gets the Best of Me' que trata sobre a importância e o amor de Sophie pela música e o impacto desta na vida dela.

Para este post, escolhi a música 'Take Me Home', cuja versão de orquestra descobri graças a uma entrevista que a cantora britânica concedeu ao programa 'Jeremy Vine' no Channel 5 do Reino Unido, contando um pouco dos bastidores da gravação do clipe que trago a vocês no vídeo abaixo.



  • Busy for Me (com Orquestra Jazz de Leiria) - Aurea

Agora vamos à Portugal para a cidade média portuguesa de Leiria, terra da cantora que mais ouvi no Spotify em 2023 e que tem post sobre ela aqui no blog (https://arteemulticulturalismo.blogspot.com/2023/04/top-3-musicas-de-destaque-do-festival.html), mas também da admirável Orquestra Jazz de Leiria, criada em 2011 pelo músico César Cardoso, e que apesar de jovem, protagonizou parcerias com importantes autores de canções portuguesas, dentre elas a consagrada Aurea.

Também conhecida como 'A voz do soul português', influenciada por artistas como Aretha Franklin, Joss Stone e John Mayer, Aurea é considerada uma das maiores cantoras portuguesas da atualmente, seja por suas diversas indicações à prêmios musicais como os da MTV ou até mesmo o Globo de Ouro, como por suas diversas participações como jurada do The Voice Portugal e tudo isso com 36 anos, tendo lançado seu primeiro disco em 2010 e desde então traz em suas composições desde o soul, blues, jazz até o pop e o rock, sendo uma das cantoras mais versáteis no cenário português.

'Busy for Me' foi gravada em 2010 para o álbum de estreia da cantora e foi o single mais tocado em Portugal naquele ano, tendo chegado à outros países europeus e no Brasil, além de ter feito parte da trilha sonora da novela 'Amor à Vida', também frequentemente aparecia em rádios como a Antena 1 entre as músicas mais pedidas, tendo sido vital nos primeiros passos da minha literatura, como contei neste outro post (https://arteemulticulturalismo.blogspot.com/2023/07/maiores-influencias-do-jazz-na-minha.html).



  • Jade (com Orquestra Ouro Preto) - João Bosco

Não poderia faltar nessa lista, dentre tantas músicas brasileiras que desejava inserir neste post, escolhi uma em especial que ouvi muitas vezes este ano e cuja descoberta me permitiu apreciar um excelente álbum que João Bosco lançou com a Orquestra Ouro Preto ano passado, trazendo seus principais sucessos com arranjos de orquestra. Trazendo sucessos como 'Bala com Bala, 'De Frente Pro Crime', 'O Bêbado e a Equilibrista', 'Papel Machê' e tantos outros.

Vale destacar que a Orquestra Ouro Preto já realizou diversas parcerias consagradas com artistas como Alceu Valença, Milton Nascimento e até mesmo homenageou os The Beatles. Garanto que esta será uma imersão muito valiosa pela grandiosidade da música popular brasileira.



  • Angels (Metropole Orkest) - Robbie Williams
Para encerrar este top de músicas populares em versão de orquestra, não poderia deixar de fora este grupo artístico holandês que descobri graças à cantora de mesma nacionalidade, Caro Emerald, a Metropole Orkest, referência como orquestra de jazz e pop, fundada em 1945 e que lançou músicas e álbuns com consagrados nomes da música como Elvis Costello, Ivan Lins, Trijntje Oosterhuis (cantora holandesa que tem uma ótimo versão de Acaso em parceria com o cantor brasileiro) a própria Caro Emerald, Chaka Khan e muitos outros.

Na parceria entre Metropole Orkest e Ivan Lins, por exemplo, surgiu o álbum 'Ivan Lins & The Metropole Orchestra', de 2009 que foi ganhou o Grammy Latino naquele ano como melhor álbum de MPB.

Para comemorar os 25 anos de carreira em 2022, o cantor britânico Robbie Williams decidiu lançar um álbum com a remasterização de suas principais músicas, chamado XXV. Para esta missão, não poderia ser diferente e Robbie Williams decidiu por regravar tais canções com a Metropole Orkest e foi muito bem recebido pelo mercado europeu, tendo atingido o primeiro lugar nas paradas de sucesso no Reino Unido, Irlanda, Escócia e Holanda, além de ter feito parte do top 15 em países como França, Espanha e Itália.

O primor e a riqueza de sons de uma das maiores orquestras do mundo agora estavam reunidos com um dos principais cantores de pop da Grã-Bretanha e vocês poderão conferir abaixo essa realização na música 'Angels', um marco na carreira de Robbie Williams em 1997.




domingo, 29 de outubro de 2023

A ligação entre Caetano Veloso, Gal Costa e Maiakovski em 'O Amor'

No post de outubro do blog 'Arte e Multiculturalismo' trarei uma ligação por poucos imaginada entre a arte soviética e brasileira, conectadas de maneira atemporal entre o cubismo-futurismo de Vladimir Maiakovski e a música de Gal Costa (que nos deixou há quase um ano), composta por Caetano Veloso e Ney Costa Santos Filho, artistas brasileiros que não só admiravam o cubismo-futurismo soviético, como 'beberam nessa fonte' na arte que consumiam e desenvolviam desde o tropicalismo.

Assim como em um efeito cascata, sabemos que Caetano Veloso, um dos nomes de maior prestígio da música brasileira em cenário nacional e internacional inspira até hoje tantos artistas em suas composições, como é o caso de Salvador Sobral, o maior vencedor da história do Eurovision Song Contest (concurso de artistas e bandas europeus), cuja história no concurso e ligação com Caetano podem ser lidos no post que escrevi ano passado e cujo link deixarei abaixo:

https://arteemulticulturalismo.blogspot.com/2022/03/top-3-musicas-portuguesas-no-eurovision.html

Mas além de inspirar, Caetano foi também inspirado por diversos poetas, especialmente de língua portuguesa, como Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Gregório de Matos e tantos outros. Não obstante do que foi inscrito em língua portuguesa, os artistas tropicalistas também se conectaram com parte do que fora produzido de conteúdo cultural na União Soviética, por afinidades ideológicas e identificações artísticas, no caso específico desse post relacionado ao poeta e dramaturgo soviético Vladimir Maiakovski (1893-1930), também chamado de 'O poeta da revolução'.

É interessante notar a influência dos poetas soviéticos como Boris Pasternak, Anna Akhmatova e do próprio Maiakovski na obra artística de tantos cantores ao redor do mundo. Lara Fabian, por exemplo, institulou seu álbum 'Mademoiselle Zhivago', de 2010, como uma forma de homenagear o consagrado romance de Pasternak, chamado 'Doutor Zhivago' (1957). Também comentei mais sobre esse álbum no espaço do blog, link abaixo: 

https://arteemulticulturalismo.blogspot.com/2021/10/top-5-versoes-russas-de-musicas.html

Especificamente sobre Maiakovski e a ligação do mais importante poeta do futurismo soviético para com a Música Popular Brasileira (MPB), influências dele com o poeta brasileiro Augusto de Campos à parte, é interessante notar a inspiração do poeta soviético com artistas como João Bosco em 'E Então, Que Quereis...?' e com Caetano Veloso/Gal Costa, na música 'O Amor', que foi lançada em 1981 no álbum 'Fantasia' que também conta com sucessos como 'Meu Bem, Meu Mal' e 'Açaí'.

Abaixo a poesia 'O Amor' de Maiakovski (1915) e a tradução e adaptação brasileira por Ney Costa Santos Filho e Caetano Veloso com a performance de Gal Costa em vídeo.


O Amor (Vladimir Maiakovski)

Um dia, quem sabe,

ela, que também gostava de bichos,

apareça

numa alameda do zôo,

sorridente,

tal como agora está

no retrato sobre a mesa.

Ela é tão bela,

que, por certo, hão de ressuscitá-la.

Vosso Trigésimo Século

ultrapassará o exame

de mil nadas,

que dilaceravam o coração.

Então,

de todo amor não terminado

seremos pagos

em inumeráveis noites de estrelas.

Ressuscita-me,

nem que seja só porque te esperava

como um poeta,

repelindo o absurdo quotidiano!

Ressuscita-me,

nem que seja só por isso!

Ressuscita-me!

Quero viver até o fim o que me cabe!

Para que o amor não seja mais escravo

de casamentos,

concupiscência,

salários.

Para que, maldizendo os leitos,

saltando dos coxins,

o amor se vá pelo universo inteiro.

Para que o dia,

que o sofrimento degrada,

não vos seja chorado, mendigado.

E que, ao primeiro apelo:

– Camaradas!

Atenta se volte a terra inteira.

Para viver

livre dos nichos das casas.

Para que doravante

a família seja

o pai,

pelo menos o Universo,

a mãe,

pelo menos a Terra.

 

O Amor (Gal Costa) 



sábado, 30 de setembro de 2023

Poesias que mais me marcaram no início da jornada literária

No post de setembro de 'Arte e Multiculturalismo' remeto não só ao tema de origem do blog lá em maio de 2020, como acima disso, à minha origem literária dos textos de autoria própria, trazendo os autores que eram há quase dez anos atrás as minhas principais influências literárias, seja para os primeiros versos e romances no início de 2013, até a consolidação da 'produção literária' nos meses seguintes, culminando no ano seguinte na elaboração e implementação de um Sarau de autoria própria para quase oitenta estudantes, além da participação em outro Sarau, no qual diversos estudantes puderam recitar seus próprios versos.

Em suma, a minha influência literária naquele período e também destacada no Sarau perpassou por autores portugueses como Bocage, Almeida Garrett, Camões, Camilo Castelo Branco, britânicos como Lord Byron e a poetisa Elizabeth Barrett Browning e principalmente brasileiros como Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu, sendo estes dois dos expoentes literários da Segunda Geração do Romantismo brasileiro, também chamado ultraromantismo. 

Para esse post, optei por selecionar três poemas diversos, que fizeram parte do Sarau que elaborei há mais de nove anos atrás, sendo o primeiro deles, do poeta e contista que me acompanhou em grande parte da minha adolescência como 'modelo literário', tendo em 'Minha Musa' os versos que mais admiro em seu livro 'A Lira dos Vinte Anos'.

Na segunda escolha, trago os versos da importante poetisa britância da era Vitoriana, Elizabeth Barrett Browning em 'Amo-te'. Também aproveito para deixar a recomendação de um livro de outra poetisa brilhante do século XIX, mas dessa vez tendo origem estadunidense, Emily Dickinson - Uma Centena de Poemas, obra que apesar de ter sido publicada em 1985, ainda é possível encontrar exemplares pela internet.

Por último, escolhi os versos (da poesia 'Amor em Paz') de um dos maiores compositores e poetas da história contemporânea brasileira, além de jornalista, dramaturgo e até mesmo diplomata. À Vinícius de Moraes devemos canções importantíssimas da música brasileira como 'Eu sei que vou te amar', 'Canto de Iemanjá' e 'Onde Anda Você'.

Ótima leitura e agradeço demais todo feedback e compartilhamento de conteúdo!


Minha Musa – Álvares de Azevedo 

Minha musa é a lembrança
Dos sonhos em que eu vivi,
É de uns lábios a esperança
E a saudade que eu nutri!
É a crença que alentei,
As luas belas que amei
E os olhos por quem morri!

Os meus cantos de saudade
São amores que eu chorei,
São lírios da mocidade
Que murcham porque te amei!
As minhas notas ardentes
São as lágrimas dementes
Que em teu seio derramei!

Do meu outono os desfolhos,
Os astros do teu verão,
A languidez de teus olhos
Inspiram minha canção...
Sou poeta porque és bela,
Tenho em teus olhos, donzela,
A musa do coração!

Se na lira voluptuosa
Entre as fibras que estalei
Um dia atei uma rosa
Cujo aroma respirei...
Foi nas noites de ventura,
Quando em tua formosura
Meus lábios embriaguei!

E se tu queres, donzela,
Sentir minh'alma vibrar,
Solta essa trança tão bela,
Quero nela suspirar!
E dá repousar-me teu seio...
Ouvirás no devaneio
A minha lira cantar!



Amo-te - Elizabeth Barrett Browning

Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh'alma alcança quando, transportada,
sente, alongando os olhos deste mundo,
os fins do ser, a graça entresonhada.

Amo-te a cada dia, hora e segundo
A luz do sol, na noite sossegada
e é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.

Amo-te com a dor, das velhas penas
com sorrisos, com lágrimas de prece,
e a fé de minha infancia, ingenua e forte.

Amo-te até nas coisas mais pequenas,
por toda vida, e assim DEUS o quiser
Ainda mais te amarei depois da morte.



Amor em paz – Vinícius de Moraes

Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar

Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz

sábado, 26 de agosto de 2023

O fim de Caro Emerald e nova fase do blog

O post de agosto deste blog, marca o fim de um ciclo e o início de uma trajetória. Ambos contemplados e reconhecidos, a partir de insights desenvolvidos no dia-a-dia, onde trabalhar em um prédio que sedia uma importante escola de música para a população paulista (a EMESP Tom Jobim), pode trazer importantes reflexões e inspirações para além do ambiente laboral.

O fim de Caro Emerald

Quanto ao primeiro, estamos falando do fim de um projeto musical que marcou a minha adolescência e fase adulta, como o maior trabalho de jazz cantado do século XXI, na minha modesta opinião, e que acumulou milhares de fãs ao redor do mundo, em diferentes idiomas e nacionalidades (vide os comentários dos vídeos postados no canal da cantora no Youtube).

Lembro até hoje das primeiras vezes que ouvi o trabalho musical de Caro, nos intervalos da escola ouvindo sucessos como 'Back It Up' e 'Coming Back As a Man' pela rádio Antena 1. Ali, aos 14 anos e apoiado sob a varanda de um dos andares da ETEC Parque da Juventude, tive meu primeiro contato com uma cantora de jazz/electrojazz na minha vida e os acordes (e tempos depois as letra) transformaram e influenciaram diferente a minha trajetória literária dali em diante.

De menções em poesias, ensaios e diversos textos literários à posts neste mesmo blog com menção à cantora, em que faço questão de colocar abaixo o nome e o link de alguns desses posts:


  • Top 5 - meus temas preferidos de apresentações de patinação artística

https://poesiaeromantismo.blogspot.com/2023/07/top-5-meus-temas-preferidos-de.html


  • Maiores influências do jazz na minha literatura




  • Três crônicas diplomáticas - parte III


Para este post, trarei um breve texto que escrevi no mesmo dia que descobri por acaso que o projeto musical de Caro Emerald havia se encerrado e Esmeralda Caroline van der Leeuw resolvera tomar outro rumo no mundo artístico atualmente se apresentando como 'The Jordan' em um estilo que a cantora holandesa define como 'Trippy pop, lyrical poetry with a raw, feminine edge'. A chocante mensagem de que Caro Emerald não lançaria novos trabalhos no sedento campo do jazz, bem como os sons que escutava no prédio da escola de música naquele momento, me inspiraram a escrever essa reflexão:

A soprano cantava de forma imponente e o piano a acompanhava discretamente. Estava transportado para um enterro. Era o enterro de um projeto musical de jazz. Aquele que eu mais sonhava em assistir presencialmente e que nunca havia tido a oportunidade para tal. O funeral não havia sido anunciado. Apenas eu estava ali a olhar aquele cadáver que sequer tinha uma coroa de flores. Estava apenas adornada pelo seu visual vintage do jazz clássico que tão bem remontava aos dias atuais. As lembranças da adolescência, fase adulta, dos textos e poesias que ela tão belamente me inspirou apareciam na mente. O flashback das cenas que ela ajudou a construir em seu projeto musical. Mas agora Caro Emerald está morta e The Jordan surge em uma proposta de pop com poesia intimista que tenta me cativar. Milhares de fãs ficaram órfãos e o vazio da perda não será capaz de ser descrito aqui. A flauta agora acompanha a soprano contemplando a nova Caroline e o projeto de Caro Emerald agora foi-se para a eternidade.

Why did you go home...

Colocarei abaixo as principais capas de álbuns da breve e fascinante carreira de Caro Emerald para quem tiver interesse pesquisar mais sobre esse ícone do jazz moderno...


Live At HMH - 2011


Emerald Island - 2013


The Shocking Miss Emerald - 2013


Deleted Scenes From The Cutting Room Floor - 2010


O início de uma nova marca

O blog 'Poesia e Romantismo' foi fundado em maio de 2020, na comemoração de seis anos do meu primeiro Sarau, apresentado nas turmas da ETEC Parque da Juventude, aos 16 anos. A proposta inicial deste espaço literário era dar espaço à muitas dessas poesias e conteúdos literários que produzi e apresentei naquela época seja no Sarau, para amigos e familiares.

Com o tempo, não só o blog deu espaço para a transformação de estilos literários pela qual passei ao longo dos últimos dez anos, como também elementos de intertextualidade, seja com outros autores ou com diferentes formas de arte, como a música, dança e a pintura, foram plantando o germe de um conteúdo cada vez mais multifacetado, multicultural e que tem por conteúdo trazer um espaço para a difusão das expressões artísticas, indo muito além da poesia enquanto estilo e forma literária e do Romantismo enquanto movimento literário que me influenciou profundamente na fase adolescente, por meio de poetas como Lord Byron, Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu.

Essas transformações comecaram a ocorrer em 2021 e o conteúdo poético passou a ser intercalado com posts 'multimídia' com a exibição de pinturas, fotos ilustrativas e vídeos, especialmente de apresentações e clipes musicais. Assim, o nome do blog já não conseguia mais abarcar toda a diversidade cultural expressa neste espaço e a necessidade de reforma no nome e endereço era evidente, além do layout que foi remodelado em maio deste ano.

Portanto, inicia-se a partir de hoje uma nova marca para este blog, que dialoga com a totalmente de conteúdos publicados aqui, bem como com a descrição da página e com a minha essência enquanto egresso em Gestão de Políticas Públicas, escritor e internacionalista por paixão.

Agradeço o apoio, carinho, respeito e tantos feedbacks, compartilhamentos e tantas outras formas de ajudar a promoção e divulgação deste conteúdo que trago não só como entretenimento e como um reflexo da minha essência, mas para que os posts possam difundir as diferentes expressões artísticas na vida das pessoas!

Um brinde ao eterno e sempre nostálgico jazz de Caro Emerald e ao novo ciclo que se inicia hoje com o blog 'Arte e Multiculturalismo'!



arteemulticulturalismo.blogspot.com

domingo, 30 de julho de 2023

Top 5 - meus temas preferidos de apresentações de patinação artística

Caros leitores, é com grande satisfação que trago para o último post de julho um tema que além de estar conectado com a atual condição climática que estamos passando em boa parte das regiões brasileiras, também é uma oportunidade de trazer um esporte que traz em seu DNA apresentações de caráter artístico, tendo como principal palco as Olimpíadas de Inverno. Vale lembrar que nos Jogos Olímpicos de Verão, por exemplo, tais modalidades esportivas são caracterizadas pela Ginástica Artística e Rítmica e pelo Nado Sincronizado, por exemplo. Todos esses esportes mencionados anteriormente possuem juízes que avaliam o desempenho do(a) atleta e com base nisso submetem as notas que representam a pontuação a ser fornecida para o(a) esportista, sendo esta geralmente divida em nota técnica e artística ou elementos técnicos e apresentação, dentre outras denominações correlatas.

Neste post, apresentarei apresentações da patinação artística de três Olimpíadas de Inverno diferentes (Sochi 2014, Pyeongchang 2018 e Beijing 2022), de quatro países diferentes e cinco temas completamente distintos, passando por rítmos latinos e brasileiros, temas de cinema, pop até música erudita. Enfim, uma seleção para todos os gostos rs (e também um bônus de um clipe musical que me inspirou a escrever este post). 

Boa leitura!

  • Ekaterina Bobrova & Dmitri Soloviev (Atletas Olímpicos da Rússia) - Latin Lover
A dupla de Atletas Olímpicos da Rússia, OAR em inglês, Ekaterina Bobrova e Dmitri Soloviev, protagonizaram uma linda homenagem à música brasileira em Pyeongchang 2018. Após um ouro na competição por equipes em Sochi 2014, representando a bandeira russa, quatro anos depois, a dupla da 'OAR' (sigla utilizada devido à punição do Comitê Olímpico Internacional pelos episódios conhecidos como 'escândalo do doping em Sochi 2014'), conseguiu uma medalha de prata também na competição por equipes.

Na competição por duplas na categoria 'Dança no Gelo', Bobrova e Soloviev terminaram na quinta colocação, atrás de duas duplas dos Estados Unidos, uma da França e dos multicampeões do Canadá - Tessa Virtue e Scott Moir (prata em Sochi 2014 e ouro em Vancouver 2010 - terra natal da dupla). Apesar do desempenho discreto, a escolha dos técnicos e coreógrafos pela combinação de músicas Latin Lover de João Bosco, Dance de DJ Maksy e Quand je vois tes yeux de Dany Brillant, facilmente ganharam a minha atenção, afinal a dupla fora uma das poucas a escolher uma música da nossa MPB para protagonizar uma linda apresentação no programa curto, cujos rítmos obrigatórios eram música latina/brasileira como rumba, bossa nova e samba, fazendo com que esta apresentação esportiva/artística fosse uma das mais especiais que já assisti na vida.

Abaixo o vídeo desta bela apresentação!



  • Piper Gilles & Paul Poirier (Canadá) - James Bond Theme
Continuando na categoria 'Dança no Gelo' em Pyeongchang 2018, mas agora escrevendo sobre o programa livre, temos a dupla canadense Piper Gilles & Paul Poirier, protagonizando uma apresentação muito especial para os fãs da franquia 007 - James Bond, tanto pelo figurino, como pela trilha sonora dos filmes 007 contra a Chantagem Atômica de 1965 e 007 contra Octopussy de 1983 e coreografia apresentadas.

Na ocasião, a dupla canadense teve um desempenho melhor no programa livre, mencionado acima, do que no programa curto, terminando a competição em um modesto oitavo lugar na somatória das notas, três posições abaixo da dupla Bobrova e Soloviev, destacadas no tópico acima. Quatro anos depois, novamente Gilles e Poirier tiveram um desempenho discreto nos jogos de Pequim terminando em sétimo lugar (incluindo também uma apresentação de James Bond - Writing's on the Wall de Sam Smith - na exibição de gala que não conta na pontuação da competição), e como em um script de um filme de superação, após ter passado por uma cirurgia que culminou na retirada do ovário esquerdo por conta de um tumor, Piper Gilles não só se recuperou psico e fisicamente do delicado quadro médico, como também obteve a medalha de ouro na final do Gran Prix de Patinação Artística, em Torino, ao lado de sua dupla Paul Poirier.

Abaixo a apresentação pot-pourri sobre James Bond em Pyeongchang 2018.




  • Aliona Savchenko & Bruno Massot (Alemanha) - That Man 
Ainda em Pyeongchang 2018, mas na competição de Duplas (diferente da 'Dança no Gelo'), tivemos a dupla naturalizada alemã Aliona Savchenko (ucraniana) e Bruno Massot (francês), ganhando a medalha de ouro na somatória do programa curto com o programa livre, em uma das disputas olímpicas mais emocionantes no gelo, na qual a dupla de representantes da Alemanha obteve o total de 235.90 pontos, contra 235.47 pontos da dupla chinesa Wenjing/Cong que quatro anos mais tarde levaria o ouro em casa, nas Olimpíadas de Inverno de Pequim 2022.

No vídeo abaixo, destaco o programa curto da dupla alemã que contou com a perfomance de That Man, de Caro Emerald (a minha grande referência musical do jazz no século XXI e por isso a apresentação está no meu top 5 rs) e Ameksa - Fuego de Taalbi Brothers.




  • Keegan Messing (Canadá) - Home 
Agora vamos avançar quatro anos no tempo, mas continuando no continente asiático, em Pequim ou Beijing 2022, para contar um pouco da apresentação do canadense Keegan Messing. Ao assistir as duas etapas do Grand Prix da Federação Internacional de Patinação Artística (ISU), Internationaux de France e Skate Canada International, onde Messing conseguiu a sexta e quinta posição respectivamente, e ansiedades a parte pelo início dos Jogos Olímpicos de Inverno, fiquei impressionado pela escolha da música 'Home' de Phillip Phillips, que fez parte das paradas de sucesso internacionais em 2013, período este muito especial da minha vida no qual dei os primeiros passos na vida literária.

Em Pequim, Messing conseguiu um discreto 11º lugar entre os 24 atletas participantes (competição vencida pelo estadunidense Nathan Chen), mas foi a memória afetiva da música 'Home' que remetia aos meus tempos de adolescente e a explosão da criatividade literária, que deram aquele ar de nostalgia à apresentação do atleta canadense a este que o assistia.




  • Carolina Kostner (Itália) - Ave Maria 
E fechando este top 5 de temas marcantes e preferidos das apresentações de patinação artística da última década, voltamos para 2014, nos Jogos de Inverno de Sochi, para a competição feminina e mais especificamente para a apresentação da italiana Carolina Kostner. Vale aqui destacar além da belíssima apresentação de Ave Maria de Schubert e Humoresque de Antonín Dvořák no programa curto, um dos grandes clássicos das apresentações da patinação artística e um marco da música clássica, também a vencedora carreira de Kostner que ganhou além de uma final de Grand Prix em 2011-12, um título mundial em 2012, cinco ouros em campeonatos europeus, além de ter vencido diversas etapas do Grand Prix e ter conseguido a medalha de bronze em Sochi 2014, a qual comentarei neste post.

Kostner se destacou no programa curto da final feminina, tendo alcançado a terceira posição e apesar de ter obtido a quarta melhor marca no programa livre, na somatória das notas a italiana permaneceu em terceiro lugar e portanto, obteve a medalha de bronze olímpica, atrás da russa Adelina Sotnikova e da estrela da patinação artística e embaixadora dos jogos de Pyeongchang 2018, a sulcoreana Yuna Kim, que ficou com a prata (tendo vencido o programa curto, mas sendo superada por Sotnikova no programa livre e consequentemente na somatória das notas).

Quatro anos depois, em Pyeongchang 2018, a patinadora italiana terminou apenas na sexta posição a final individual feminina, a mesma que teve pela primeira vez uma atleta brasileira participando entre as 24 finalistas (Isadora Williams), e também uma histórica decisão entre duas atletas da OAR (Atletas Olímpicos da Rússia) que bateram o recorde mundial na prova, terminaram empatadas no programa livre em pontuação, tendo o critério desempate 'nota por componente de programa' dando o primeiro lugar para Evgenia Medvedeva no programa livre, mas tendo a compatriota Alina Zagitova vencido o programa curto por menos de um ponto de diferença e portanto, na somatória das notas, Zagitova ficou com o ouro e Medvedeva com a prata, além da canadense Kaetlyn Osmond que ficou com o bronze.

No vídeo abaixo a apresentação de Caroline Kostner em Sochi 2014 - Ave Maria, que a rendeu o bronze naqueles jogos olímpicos.

 


Bônus

Por último, encerro este post com um clipe musical que inspirou a ideia de trazer no blog um post sobre temas musicais de patinação artística. Trata-se da canção 'She's The One' de Robbie Williams de 1997, que ganhou disco de platina e esteve nas paradas de sucesso, especialmente no Reino Unido, terra natal do pop-star.

É muito curioso que eu tenha descoberto tanto a canção em si como o clipe musical, embora seja fã do cantor britânico há muitos anos, em um singelo jogo de karaokê para Nintendo Wii, chamado 'We Sing Robbie Williams' de 2010. Tanto as cenas do videoclipe a serem exibidas abaixo que envolvem o enredo de um técnico de patinação artística, protagonizado pelo cantor britânico e uma dupla de patinadores que participa de uma importante competição internacional, como o caráter romântico na letra e a melodia lenta e nostálgica, me deram o primeiro insight do que viria a ser o post em questão!

Espero que tenham gostado do conteúdo! E sem mais spoiler vamos ao clipe de 'She's The One'.




domingo, 2 de julho de 2023

Maiores influências do jazz na minha literatura

As minhas primeiras memórias afetivas com relação ao jazz remontam ao ano de 2012, mais exatamente ao período da minha adolescente, onde adquiri o hábito de escutar rádios como Antena 1, Alpha FM e Rádio USP, que tocavam diversos estilos músicais desde soul, blues, romântica, pop, disco e o próprio jazz.

Entre os primeiros destaques de jazz que influenciaram o meu gosto musical, destaco Caro Emerald com sucessos que frequentemente apareciam nas paradas de sucesso europeias como Back It Up e Coming Back as a Man, Aurea com o soul/jazz de Busy for Me, Michael Bublé que se destacava com as canções de pop românticas - It's a Beautiful Day, Close Your Eyes, bem como em sua roupagem de jazz em Feeling Good. 

Também acho importante mencionar artistas como The Style Council, uma banda britânica de pop que vezes flertava com o jazz e o blues, além do jovem belga Yannick Bovy de apenas 36 anos, que se consagrou à época pela sua versão de All My Loving, famosa canção de The Beatles, sendo comparado ao ícone do pop/jazz moderno Michael Bublé, fortemente influenciado pelo repertório de artistas como Frank Sinatra, Nat King Cole e Lou Rawls. Bovy, em especial, já influenciava alguns versos naquele período, mas foi apenas a partir de 2019 que os cantores e o gênero jazz/blues/soul/electroswing, se consolideram fortemente na intertextualidade e referências artísticas presentes nos textos, ensaios e crônicas produzidas a partir de então.

Neste post, compartilharei alguns trechos destes textos que fazem menção ao jazz enquanto estilo musical e àlguns dos artistas mencionados acima. Boa leitura!

(...)As notas de jazz começam com Ella Fitzgerald, e não mais em Paris com Caro Emerald, mas ainda era Dream a little dream of me que embalava a primorosa cena(...)

(...)O conjunto da beleza europeia dela com o jazz anos 50 dos EUA era uma belíssima união em prol da arte.

Trecho de texto de 14/06/2022



(...)Ao fundo do saguão a leveza do som de uma orquestra. Era um jazz mental que estava prestes a começar à frente da Sala São Paulo. Os instrumentos de sopro tocavam lentamente I Belong to You, enquanto Caro Emerald trazia o refrão com harmonia.

Trecho de texto de 14/12/2021




Os acordes marcantes do jazz de The Style Council trazendo novamente a figura de Jennifer Connelly no auge dos anos 80.(...)

(...)O visual era o de uma musa do jazz, um forte penteado de época, o batom fortemente vermelho, um colar de pérolas, além de um vestido preto de cetim e um scarpin da mesma cor(...)

Trecho de texto de 28/10/2021


(...)Onde estaremos e o que sentiremos até o anoitecer quando essas notas de jazz e soul se acabarem?(...)

Trecho de texto de 07/09/2021

Num crossover de Come Fly With Me e All I Ask For You não poderia haver melhor resumo das expectativas de 2021. Na primeira canção, o clima de Broadway nos dominava naquele jazz tão envolvente.(...)

Trecho de texto de 23/03/2021


Ao som de uma orquestra de jazz, a dama que sempre acompanhava melodias desse gênero lá estava novamente no centro do salão.(...)

Trecho de texto de 28/08/2020

Era a paixão pelo resgate do clássico jazz de bom gosto que se metamormizou no corpo brasileiro e alma europeia da dama d'orquestra.(...)

Trecho de texto de 28/06/2020

(...)Desci a longa escadaria em linha reta daquele charmoso hotel europeu, mas não pude deixar de ouvir o interessante jazz holandês que começava com That Man no saguão ao lado.(...)

Trecho de texto de 16/06/2020


E tão bom poder reescrever um significado, uma trilha sonora novamente em outro contexto assim como a própria música foi transformada no jazz de All My Loving na voz de Yannick Bovy(...)

Trecho de texto de 28/04/2020


(...)Cote D'Azur está a nos esperar na trilha sofisticada dos arranjos europeus de Caro Emerald naquele jazz de verniz sessentista ou naquelas novidades bem vindas do Tejo no Festival da Canção.(...)

Trecho de texto de 02/03/2020







domingo, 28 de maio de 2023

Top 3 - participações da Suécia no Eurovision

Neste ano de 2023, a Suécia se igualou com a Irlanda como a maior vencedora do Eurovision Song Contest, com 7 títulos cada, após o segundo triunfo de Loreen no festival, com "Tatoo", tendo obtido uma inquestionável votação (sendo inclusive a mais cotada entre as casas de apostas) entre o juri e o público tanto dos países participantes, como do chamado "Resto do Mundo", ou seja, os espectadores dos países não participantes, que pela primeira vez foram autorizados a votar pelo aplicativo ou pelo site do concurso.

Dos sete triunfos do país no Eurovision, quatro deles foram conquistados ainda no século XX pelos seguintes artistas: ABBA (1974), Herreys (1984), Carola (1991) e Charlotte Nilsson (1999). Dos anos 2000 até os dias atuais foram mais três títulos, sendo dois deles com Loreen (2012 e 2023) e um com Måns Zelmerlöw (2015).

Nesse post, falaremos das canções "Waterloo" do grupo ABBA, "Euphoria" de Loreen e "Heroes", cantada por Måns Zelmerlöw.

  • ABBA - Waterloo (1974)
A canção "Waterloo", elaborada pelo grupo ABBA ao final de 1973 e escrita especialmente para a submissão no concurso musical Eurovision, significou uma enorme quebra de paradigma por ter sido cantada em um idioma não nativo do grupo sueco, ou seja, em inglês. É importante lembrar que entre 1973 e 1976 os organizadores do festival abriram uma excessão à regra do concurso e alguns artistas puderam levar ao festival músicas em língua diferente ao do país nativo, mas antes desse período e entre 1976 e 1999, a proibição vigorou no concurso e assim, Waterloo foi a primeira canção vencedora do Eurovision (1974) que não foi cantada no idioma nativo do grupo musical.

A vitória de "Waterloo" no Eurovision foi determinante para que o grupo iniciasse sua projeção musical primeiro entre os países europeus e posteriormente por Austrália, EUA, Canadá e outros importantes mercados musicais. A canção que também dá nome ao álbum do mesmo nome, foi vendida em cerca de 5 milhões de unidades, sendo 800 mil só nos Estados Unidos. A música também foi homenageada na 50ª edição do Eurovision, em 2005, quando foi eleita uma das maiores canções da história do concurso.

A forte projeção internacional de ABBA com "Waterloo", permitiu que posteriormente outros grandes sucessos como "Mamma Mia", "Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)", "Dancing Queen" e "The Winner Takes It All" conquistassem as paradas de sucesso pelo mundo e elevassem o grupo ao patamar de um dos grandes nomes da música mundial entre os anos 1970 e 1980.

Á propósito, como era de se imaginar a canção Waterloo faz paralelo com a batalha de 1815 entre ingleses e franceses, comparando o episódio histórico à um duelo amoroso no qual o eu lírico não consegue resistir aos encantos da pessoa amada, em uma luta de sentimentos aludida ao duelo de Napoleão com os britânicos.

Obs: quem quiser saber mais sobre a história do maior grupo sueco da história musical, faço um convite para que acessem o post a seguir: https://poesiaeromantismo.blogspot.com/2022/12/top-3-musicas-que-marcaram-o-inicio-da.html.


  • Loreen - Euphoria (2012)
Assim como no exemplo anterior do grupo ABBA, a ascenção musical da cantora sueca Loreen também ocorreu graças ao Eurovision Song Contest. A representante do país nórdico no festival, realizado em Baku, no Azerbaijão, naquele ano, consagrou a cantora logo no seu álbum de estreia, a atingir os 372 pontos e ser a segunda maior vencedora do concurso, atrás de Alexander Rybak com 387 pontos em 2009, sendo que a própria cantora superaria essa marca neste ano de 2023 (com outras regras de pontuação é bem verdade), atingindo 583 pontos, com seu bicampeonato no concurso pela música "Tattoo".

Ainda é cedo para apontar se "Tattoo" será um grande sucesso nas paradas pela Europa e pelo mundo, como foi "Euphoria", que tenho certeza que muitos de vocês já ouviram ao menos uma vez na vida e assim como eu não imaginavam que a canção foi desenvolvida por uma cantora sueca e muito menos que tinha vencido o principal concurso musical da Europa.

Em números, a canção ganhou 10 discos de platina, tendo atingido o primeiro lugar nas paradas de 16 países e tendo vendido mais de 400 mil cópias somente na Suécia, 500 mil na Alemanha e 2 milhões pelo mundo. No Reino Unido, por exemplo, a canção foi a mais baixada na história entre as participantes do Eurovision, tendo superado inclusive a canção "Waterloo" do ABBA e outros sucessos marcantes do festival. Outros números impressionantes foram que no Eurovision daquele ano de 2012, a canção "Euphoria" quebrou o recorde de ter sido a mais escolhida entre os países participantes, ou seja, 18 países votaram em Loreen para a primeira posição e dos 41 países (com exceção da Suécia), simplesmente 40 conferiram a Loreen alguma pontuação.

Outra curiosidade interessante sobre o pop-eletrônico "Euphoria" é que a canção foi incluída no jogo Just Dance 2023, pelo serviço de assinatura Just Dance +.


 

  • Måns Zelmerlöw - Heroes (2015)
O Eurovision Song Contest de 2015, realizado em Viena, na Áustria, foi o primeiro concurso que eu tive a oportunidade de assistir ao vivo, após ter sido recomendado pelo Youtube sobre o conteúdo. Aquela edição foi muito marcante para mim por diversos motivos, todo o universo que girava em torno do festival, a competição entre os países europeus (quase uma Eurocopa musical), as regras que eu passava a descobrir pouco a pouco, as cenas de entrada mostrando os pontos turísticos de Viena entre as apresentações musicais, o clima de expectativa da torcida e das delegações dos países, a variedade musical encontrada (ainda que historicamente o concurso seja voltado ao pop).

Outro ponto que me chamou muito a atenção durante aquele festival foi o direcionamento político de boa parte dos jurados que representavam os países participantes do Eurovision, onde era possível observar que os países ocidentais tinham maior propensão a votar em países mais alinhados politicamente, o que também ocorria entre os países orientais (lembrando que pela regra do concurso não é permitido que o juri e o público de um país votem em seu próprio representante).

A canção electropop de Zelmerlöw, que segundo o colunista do "The Independent" - Kiran Moodley, poderia ser comparada com "Lovers on the Sun" de David Guetta, ganhou o concurso daquele ano com 365 pontos, em uma edição que teve pela primeira vez um vencedor que não havia ganhado no "televoto", neste critério o cantor sueco havia ficado atrás da russa Polina Gagarina (que terminou o concurso na segunda posição) e dos italianos do Il Volo (que ganharam o televoto mas foram apenas os sextos colocados no júri). Assim sendo, a canção "Heroes", apesar de não ter sido a preferida do público votante, conseguiu a vitória no Eurovision pelo equilíbrio de pontos entre o júri e o "televoto". Por isso, o resultado dessa música nas paradas de sucesso também foi mais discreto do que nos casos anteriores descritos neste post, tendo vendido 200 mil cópias na Suécia e conquistado naquele país 5 discos de platina, além de ter entrado na primeira posição das paradas de sucesso na Áustria, Grécia, Islândia, Suiça e seu país natal Suécia.

Polêmicas à parte, vale a pena destacar, como vocês observarão na apresentação abaixo, a interessante interação entre Zelmerlöw e o desenho de um menino reproduzido no palco do concurso, sendo esta certamente uma das novidades tecnológicas que mais chamaram a atenção dos espectadores na história do festival.



sábado, 8 de abril de 2023

Top 3 - músicas de destaque do Festival da Canção 2023

A edição de 2023 do Festival RTP da Canção, realizada entre os dias 25 de fevereiro a 11 de março, nos estúdios da principal emissora portuguesa, reuniu 20 canções divididas em duas semi-finais e a grande final, da qual a cantora Mimicat se saiu vencedora com o tema 'Ai coração'. O concurso musical vale como classificatória para o Eurovision Song Contest, o principal festival europeu de competição de bandas e artistas entre as nacionalidades europeias e até as de fora do continente, como Israel, Austrália, Armênia, Azerbaijão e Geórgia.

Para saberem mais detalhes de como funciona tanto o Festival da Canção como o Eurovision e um breve histórico de ambos, recomendo acessar o link abaixo, cujo post escrito há um ano atrás, discorre sobre esses e outros detalhes desses concursos musicais.

https://poesiaeromantismo.blogspot.com/2022/03/top-3-musicas-portuguesas-no-eurovision.html 

Para este post trarei uma breve análise sobre o concurso em si em sua edição de 2023, a quarta seguida que acompanho em detalhes, bem como sobre as três canções e uma menção honrosa que estiveram presentes na final do concurso.

Com relação ao concurso de forma geral, me surpreendi muito positivamente com a qualidade da seleção de artistas e bandas para 2023, que ao menos para o meu gosto pessoal posso dizer que dois terços das 20 canções participantes nas duas semi-finais me agradaram profundamente, sensação esta que não obtive nas três edições anteriores do concurso, ainda que estas também tenham revelado canções que considero marcantes e muito originais, cuja variedade de estilos sempre esteve presente.

Outra particularidade neste ano é a de que o Eurovision será realizado em Liverpool, Reino Unido, apesar de o vencedor do ano de 2022, Kalush Orchestra, ter representado a Ucrânia, o que daria ao país a oportunidade de sediar o evento em 2023, esta regra não foi possível de ser cumprida por conta dos conflitos ainda existentes em território ucraniano. Apesar da situação geopolítica delicada, também é importante de se ressaltar que Liverpool é uma das capitais internacionais da música, de onde saíram bandas icônicas como os Beatles, Frankie Goes to Hollywood, Liverpool Express, dentre outros conjuntos de sucesso. Dessa feita, cantores como Salvador Sobral e David Fonseca realizaram homenagens à musicografia que Liverpool deu ao mundo.

Segue abaixo a breve análise e a minha opinião sobre as canções 'Ai coração', 'A festa', 'Goodnight' e 'Fim do mundo'.

  • Mimicat - 'Ai coração'
A história de superação da cantora coimbrense Mimicat de ter participado do Festival da Canção a primeira vez com 15 anos em 2001 e de ter retornado ao concurso 22 anos depois já valeria por si só a atenção dos espectadores como algo incomum e ao mesmo tempo muito admirável. E o que se viu na letra em si foi a cantora e compositora tratar das tentativas em vão de controlar o amor e seus imprevistos de uma forma cômica e divertida, o que é algo que conquista o espectador logo de início, além de uma cativante e animada perfomance de palco, em um estilo que mais lembra o 'burlesque' e 'vintage' de muitas décadas atrás.

Dessa forma, tanto a performance de palco como a letra de Mimicat foram contemplados com o primeiro lugar entre o júri e o chamado 'televoto', ou seja, entre o público, ganhando assim de forma incontestável o Festival da Canção 2023. Assim, a cantora portuguesa estreará daqui um mês, no dia 9 de maio na primeira semi-final do Eurovision, competindo por uma vaga na final do torneio ao lado de países como Sérvia, Irlanda, Croácia, Países Baixos e a favorita Suécia, da cantora Loreen, que em 2012 ganhou o concurso com a febre mundial 'Euphoria'.



  •   Edmundo Inácio - 'A festa'
Confesso que particularmente a música do cantor de Portimão, Edmundo Inácio, não me causou tanto impacto quanto as demais analisadas por aqui, mas é inegável o ótimo desempenho que ele teve na final do concurso, tendo inclusive terminado empatado em primeiro lugar com a cantora Mimicat, entre os jurados do concurso, algo que aconteceu pela primeira vez na história, e que fez com que a decisão do público fosse ainda mais importante nesse contexto, mesmo que este já tenha tido peso dois em outras oportunidades nas quais dois artistas se encontraram empatados na somatória do voto do júri e do 'televoto', sendo este último o mais importante na composição das notas.

A canção denominada 'A festa' possui em seus acordes influencias árabes, lembrando o período de dominação daquele povo sobre a península ibérica, se confundindo também com a história portuguesa e aparecendo em algumas famosas canções do país, como é o caso de Conan Osíris, por exemplo, que venceu o Festival da Canção em 2019 com 'Telemóveis'. A letra de Edmundo em si faz referência à um eu lírico que não se sente bem-vindo e acolhido em uma festa, onde questiona se esta é uma luta de poder entre o ego das pessoas e o próprio eu lírico, a quem não lhe é permitido ser quem ele realmente é.



  • Bárbara Tinoco - 'Goodnight'
Aos que leram o post que recomendei lá no início já sabem o quanto essa cantora lisbonense significa para mim no âmbito da música portuguesa, sendo ela a responsável pela minha música preferida das últimas quatro edições do Festival da Canção, com 'Passe Partout'. A expectativa era altíssima, já que em 2020 ela havia alcançado o segundo lugar com essa melodia, tendo sido a preferida entre o júri de artistas portugueses. Além disso, a música elaborada para a edição de 2023 havia sido a primeira composta por Bárbara em língua inglesa. Mas por conta da baixa pontuação entre os jurados das sete regiões portuguesas votantes (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve, Madeira e Açores), tendo terminado a primeira fase da votação em oitavo lugar, a cantora de Lisboa já era considerada 'carta fora do baralho' na disputa pelo título. No televoto, Bárbara se destacou um pouco mais, terminando o concurso na quarta posição, atrás das duas canções mencionadas acima e de 'Nasci Maria', de Cláudia Pascoal, vencedora do Festival da Canção em 2018.

A letra em si é de caráter amoroso e faz alusão a um eu lírico melancólico sobre um antigo relacionamento que se acabou, onde sua mente contrastava entre os bons momentos do antigo casal e as tentativas sem sucesso do eu lírico de se relacionar com outras pessoas de forma amorosa. A performance de palco também me impressionou pela ideia em si, com Bárbara interagindo entre as diversas pessoas presentes ali, que realizavam ações como ler uma obra literária, brindar em uma festa, mas todas em estado imóvel, e como se estivessem reunidos em uma grande foto, intitulada 'Goodnight - 2023', materializando assim o forte caráter nostálgico da canção.



  • Inês Apenas - 'Fim do mundo'
Nesse post, não poderia deixar de fazer uma menção honrosa à canção da pianista, cantora e compositora Inês Apenas. Quando eu mencionei que o Festival da Canção 2023 foi o de mais alto nível entre as canções apresentadas nos últimos anos, posso dizer que a situação de Inês representa bem essa situação. Uma composição que apesar de ter passado para a final do concurso em terceiro lugar na segunda semi-final e não ter zerado sua pontuação nem entre o júri, nem entre o televoto, mesmo assim terminou a final na última posição, entre as treze canções participantes e empatada com a banda SAL e a música 'Viver'.

É bem verdade também que o modo como a música em geral toca (ou não) nossas almas é feita de forma muito particular e individual, a partir da percepção de cada ser humano de acordo com gosto musical, preferências, visão de mundo, dentre outros aspectos. No meu caso em particular, o caráter apocalíptico-dramático da canção romântica, aliada aos acordes de piano (meu instrumento musical preferido) e a forma como me encontrei de forma tão contundente dentro da música, especialmente nos versos 'Salva-me o dia, já é tarde. Este poema é teu e vou guardar pra mim. Dizem que o amor é fogo e arde. Espero que a chama não se apague'. A intertextualidade com Camões, aliadas aos motivos que explanei acima, me fazem enxergar Inês como uma grata revelação da música portuguesa no pop, soul, R&B, misturados com música eletrônica e aliadas ao (sempre bem-vindo) piano.