Pesquisar este blog

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Please stay (2019)

Como é possível um palácio de organização tão decadente afinal, pode ainda mantém os pilares de sua elegância e dos seus transeuntes ao longo dos anos? Essa discussão se torna lateral quando a dama de saia rosa que está a aparecer. Num azimute de pessoas tão sofisticadas, mesmo assim sua presença harmônica e feminina se destaca e os eventos passam a envolvê-la. Parece que minha ida ao Palácio estava exatamente programada para o momento em que ela pudesse me observar. Tão discreta e misteriosa quanto as mulheres que apreciam a elegância alheia. Mas e afinal o inverso? Esse sim mostra-se inútil. A intuição feminina faz de qualquer olhar disfarçado um pleno amadorismo. I got something (elegance) for you. 

Na fila para a entrada do evento, eis que sua presença também fez-se necessária para adornar o stress de tamanha desorganização. Ali novos olhares disfarçados eram facilmente confundidos com outras direções sempre que uma красотка девушка passava imponente на каблуках e sua vestimenta sofisticada. Mesmo na saída do evento, no meio da multidão... Lá a triunfante saia rosa aparecia, única com pétalas de vida e sensualidade. 

Mesmo na viagem de volta, naquele simples táxi, ela parecia compartilhar comigo sorrisos e bons momentos, quando conversas paralelas me desconectavam do nublado mundo real. E era tão lindo fazê-la sorrir! O trajeto para o trabalho era longo sim, mas a dama me acompanhava em sua sinfonia tão agradável e requintada. Quão veloz foram nossos momentos juntos de tão despretensiosas quanto leves conversas. Just the way that you looked today. Tudo isso invadia minha mente que já não me pertencia por completo. Meu relógio, o tempo da minha vida parecia vinculado às suas ações. 

Na sala de trabalho vazia prestes a sair, eis que a deslumbrante dama da beleza mais imponente reaparece. Seria a formalidade tão imponente quanto ela e nosso insaciável desejo? Talvez o meu terno tenha realmente fitado-a por completo, bem como sua saia rosada e o perfume que me enleou naquele momento. 

Eis o dia em que o mancebo invisível passaria a ser observado misteriosamente pela ninfa dourada. O terno, gravata e tudo que tive direito para mostrar meu espírito formal e diplomático despertou seus interesses até então adormecidos. Dispensem discursos marqueteiros e flores artificiais! A naturalidade de tanta harmonia está nos seus traços de mulher. Que honra vê-los voltados para mim! Tão curioso que ela não precisasse de mais nada ali. Que a elegância e simplicidade se complementassem tão bem. Que sua elevada presença seja sentida novamente o mais rápido possível! Esse espaço de arte anseia sua classe e glamour. 

Se posso oferecer-te aqui o papel de musa inspiradora é porque sei que não fará a atuação passando-se por russa. Trará o estro de sua intensa beleza que em seus traços permanece todos os dias, sem qualquer estelionato. Please stay here! A inspiração e a arte que acalenta minha alma não pode parar. Давай найден друг друга! Vamos sentir um a imensidão do outro! A intensidade dessa essência bucólica. Nos versos, nos seus traços, em sua saia rosada... Se nossas conversas, nossos sorrisos, nossos momentos especiais juntos foram criados quando você passou a cativar minha mente, então vamos manter e difundir essa primazia! Um livro com muitas páginas a ser escrito, uma dança a cada dia sendo mais aperfeiçoada em seus passos de Romantismo, no teatro de nossos sonhos, palco dessa inspiração e claro, tudo isso guiado por sua sinfonia tão árcade e necessária para meus versos. 

Finalmente a arena dos momentos idealizados é real. E como nos mantemos conectados nesse estágio? We'll believe? Tudo será natural, basta esperar o passar de cada dia e não se acovardar perante a intensidade. Not depending of mood. Afinal, num estágio anterior à catarse do tenro e tão familiar "filme de chorar" à um poeta vem Fellini, "dia a dia minha orquestra ensaiar".



Simply Red - Something for You


Emin & Maksim Fadeev - Давай найден друг друга



domingo, 18 de outubro de 2020

Who is the "Ballerina Girl"? (2019)


 Apenas na espreita, encolhido na janela da porta, via os movimentos do balé contemporâneo, eram pássaros que ganhavam vida no piso de madeira. A imaginação e a magia artística tão bela e distante do meu cenário orçamentário, ao belo e clássico mas envelhecido do prédio. Mas eis que a coreografia fora levada para segundo plano, em um vestido amarelo e suas flores no bordado. A sandália marrom e sua harmonia com o piso. Tamanha feminilidade em sua pose tão fissurada. Aquele ensaio era o seu mundo e nada mais. The ballerina livin' that thing. Living her soul. C'est fantastique, formidable! 


Falo nas línguas dos lugares onde se apresenta, mas me ponho a ser um humilde trovador e burocrata em sua agenda de apresentações de inabalável excelência artística. Sua fixação sequer permitiu que olhasse para mim, que me concedesse a honra de nos fitarmos e trocarmos sorrisos. Assim sendo, sequer vi o seu rosto naqueles momentos de tanta expectativa. A alma pedia o grito, a atenção, mas tudo era apagado para que eu vivesse em torno da sua atenção. Meus olhares curiosos, os olhares na espreita, nada mudou o curso do destino para nos unir. Mas este brinca nos acontecimentos e coincidências. Aquele amarelo da delicadeza e feminilidade agora estava no elevador do trabalho, na dama da orquestra que mal podia me observar naqueles rápidos segundos antes da porta se fechar. Notável elegância e estilo contemporâneo. Mesmo que dourada, que a chama da inspiração permaneça enquanto durar. Tudo o que reluz e inspira é ouro.




Fonte: Arte Cult


domingo, 9 de agosto de 2020

O ciclo de minha existência aos olhos da musa inspiradora (2019)

         O ciclo de minha existência aos olhos da musa inspiradora se iniciou naquele ambiente de sofisticação e intensas trocas de olhares. A elegância nos fitava e acendia a chama do idealizar. No dia seguinte, eis que a dama reaparece e me cumprimenta diplomaticamente. Minha vestimenta não era digna de sua admirável atenção ao meu ser poético, mas ver seu sorriso inaugurado e guiado a mim no day after de momentos tão glamourosos que vivemos juntos. As conversas no carro tão naturais, a Faria Lima estava à nossa altura. Que orquestra tão charmosa que carrega em ti, ну какая красивая!!! Aquelas notas que adornam sua beleza conseguem resgatar o adormecido mundo do “fantástico romântico” e fazer a conexão com nosso mundo real. E assim age o sentimento dentro de nosso coração, inverte a ordem natural, construída em nossa expectativa. Quem visa atrair será atraído. O coração estará capturado. Se essa catarse é "servir a quem vence, o vencedor", esse jogo assim já está ditado pelo destino.


                Soprano Турецкого - Посмотри, какая красивая


A K... russa (2019)

           Ouvir os acordes de Vida é Arte e me ver tocando as mesmas notas no violão, do centro da Moscow City futurista, sentado no concreto gelado com a K... russa me olhando era contemplar a harmonia de um lindo sonho. Talvez a K... russa fosse apenas ela em sua terra mãe. Mas se eu não sei onde fica aquele lugar, se eu não sei tocar violão e se eu não sei onde ela e sua pureza estão, essa imaginação esvai-se assim no final da canção, ao abrir dos olhos, a partir da pílula da realidade. Pretendo ainda te olhar como a primeira vez! Como era bela aquela sua essência! Como tudo isso fora reproduzido tão fielmente oito anos depois? Queria eu sentir tal leveza novamente e mesmo na pílula da realidade não ver um céu tão cinzento e clima tão positivista. Desilusões levam ao mundo de Equilibrium e imagens como essa são um respiro da resistência de uma voz que mesmo do subsolo ecoa para destruir a indiferença do sistema.


Jorge Vercillo - Vida é Arte


domingo, 2 de agosto de 2020

L'amour et pour tout le monde (2019)

A chegada da musa e czarina, filha da matriarca russa e regada pelo palor do inverno volta na sua estação do ano mais natural. Mas ela ainda está no caminho para casa. A espera parece interminável e o tempo não quer passar para logo trazer a sua ventura, e assim adornar o meu espírito. A sua presença tão ilustre, delicada e harmoniosa a ser esperada durante tantos meses ainda não está a aparecer ou a ser sentida no coração do poeta. 

A profecia reluta em não ser cumprida, mas o destino dela será concretizado, bem como a companhia de quem dedicou os versos e frases de quem colheu inspiração tão rica esse semestre para justas e honrosas homenagens à czarina. A agonia só cessará sob sua presença. Olho para o céu e vejo em cada avião a sua presença real, naquele voo, vendo a grandiosidade do que está a esperá-la em cada prédio encolhido que enxerga pela janela. Sei se não está nas Aerolíneas, esta se reserva ao seu futuro acadêmico e lá estarei se for preciso e enquanto puder. 

Não haverá chama que se acenda por afinidades e química e que nos encontros seja apagada pelo tempo e espaço! Olhei para o voo da Qatar, só Deus sabe se você estava lá ou não. Sei que merecia pelo status de czarina e assim já estaria aqui, entre nós, trazendo a alma para o poeta que a anseava e a paz para seu espírito. Mas não tenho outra escolha e assim estarei mais uma noite distante da musa inspiradora, em que ela sobrevoa as frias águas internacionais, enquanto eu dou sobrevida à idealização que ainda aquece e mantém a chama que nenhuma corrente daquelas que você viu lá de cima pode apagar. 

Durmo com sua figura angelical de Afrodite elevada pelo mundo russo-português, mas espero ver-la logo com sua figura humana, sem códigos binários que a simulem. Quero a sua naturalidade, sua presença, nela sentirei minha alma que carrega contigo. Sentir suas emoções, vivências, experiências, dramas e alegrias é reviver parte de mim que eu havia deixado na Rússia e não acreditava que era possível de ser recuperada tão cedo. 

Não tema seu futuro e o que será vivido. Não tema a distância mais futura. Enquanto a intensidade alimentar nossos corações não haverá temor e a chama sobreviverá e a levaremos para todo lugar, assim como cantava Leonora: L'amour et pour tout le monde. Que Deus abra meus olhos amanhã a partir da mensagem da czarina e abençoe nosso caminho. Me liberte da maldição da musa à distância.


Leonora Jepsen - Love Is Forever



            Andrea Bocelli - Por Una Cabeza


O dia da Rússia e o holograma poético (2019)


    A apresentação do Dia da Rússia começou com nostalgia. Há um ano eu estava chegando em São Paulo, vindo da viagem da minha vida. As músicas do coral e dos cantores solos colocavam ao fundo meus momentos na terra eslava. As lágrimas insistiram em não cair, apesar da catarse que se apresentava. Era uma bela simulação da Rússia, os trajes, o idioma, a pujança, mas não era o território e o seu aroma, como na despedida tão lacrimejante.
    Eis que o ambiente se animou com a entrada da Balalaika. Eram os amigos da czarina que dançavam alegremente com sua coreografia que chamava o público para sua cultura inclusiva. Meus olhos procuravam-na inconscientemente mas não a encontravam. Eram russófilos talentosos que disseminavam sua linda cultura para o público apreciador da mais refinada e folclórica arte. Os cossacos brasileiros andavam pela platéia, as moças exalavam o charme e a feminilidade que a imperatriz russa tanto havia utilizado em suas coreografias, apaixonando as diversas plateias que a assistiam. Depois entram outros grupos. Dança folclórica, balé clássico, balé contemporâneo... A minha procura continua... Tão irracional!
    No grupo do coral russo uma moça ao centro se assemelhava à ela em alguns traços. Era uma perigosa ilusão de ótica. Parecia até que meus olhos a desenhavam na minha frente criando-me uma matrix confortável de se viver e se admirar. Era a musa como cantora lírica com seu vestido vermelho de brilhantes, coberto por outro tecido de seda e um sapato preto. Swarovski nos brilhantes? Vivara nas jóias? Schultz no sapato? Channel naquele batom vermelho que simulava sua delicadeza de rosa? Tudo isso estava a sua altura e a matrix recriava fielmente essa realidade. Ela sozinha no palco, acompanhada por uma pianista, enquanto eu na primeira classe dava meu sorriso mais sincero para apoiá-la, o que acalentava nossos corações.
    Mas, ну, тааа... Где Ю...? Это не Ю...! É uma ilusão do meu idealizar. Os meus olhos da caverna viam a G..., mas minha mente repetia: Não é a G...! Não é a G...! Não é a G...! Insistentemente repetia o que deveria ser uma verdade absoluta, mas que por um momento era contestada. A vontade que meu coração desejava em vê-la ali como uma artista, com nossas almas conectadas pelas trocas de olhares era tão intensa que isso criou a figura de uma falsa musa a me confundir. Essa vontade elaborou a matrix que de tão linda e perfeita tem de ilusória e frágil, como os pequenos cristais do seu vestido ilusório de uma apresentação ilusória. Assim os poemas e textos são criados. Assim a saudade se metaforiza num momento. Assim a arte se faz. Assim minhas emoções se fazem mais humanas. Nobre czarina da Federação Russa, me traga a minha alma de Moscou em uma semana por obséquio e assim eu verei a verdade e a tua me libertará. Entregue-a a mim e direi a ti: мой сердце? Вот так!


Fotos da Apresentação em Homenagem ao Dia da Rússia no Teatro São Pedro - 30/06/2019




sábado, 25 de julho de 2020

Если ты рядом (2019)


No meio do nosso encontro não lembro como consegui um gancho para mostrar a czarina o clipe de Если ты рядом e toda aquela paisagem nos era tão familiar. Perguntei à musa se o coração dela também se aquecia e apertava naquele momento com tamanha nostalgia da sagrada terra russa. Com tanta saudade das nossas caminhadas pela neve de São Petersburgo, abraçados um ao outro, quando o frio não era um problema. A sua touca de lã e o seu toque tão europeu de elegância. Parecia um lindo filme romântico fora do mainstream. Lembra quando cantávamos juntos essa música na margem do Neva? Quando estávamos para observar o curso do rio em Fontanka? Ou quando eu contava pra ela o quão especial era a travessia na ponte para o Palácio de Inverno? Cantávamos tão despretensiosamente naquela margem do canal, porque era a Veneza que precisávamos. O fone se dividia enquanto nossas almas se uniam. Não ignoro o seu sangue nem suas origens, mas nossas almas se instalavam ali, com nossos sentimentos elevados. Tudo naquela cidade tinha um toque tão forte de Romantismo e harmonia. Tudo combinava tão bem com o nosso humor e nosso envolvimento. Era um Éden que merecíamos ficar ad eternum

Após o final do clipe nosso olhar deixou cair uma lágrima isolada, enquanto não se poderia impedir o aperto do nosso coração. Impressionante como uma música nos leva para uma atmosfera tão familiar de um passado que vivemos juntos. Afinal, se para Bocage “morte de amor é melhor do que a vida”, então sei que os lindos momentos juntos e idealizados dos quais nunca vivemos são mais belos e suaves do que a cinzenta realidade que me cerca.



Emin & A'studio - Если ты рядом


No caminho da idealização já são perguntas demais (2019)


Uma aula sobre pós graduação e o que isso significa dentro da minha trajetória e da musa? Uma bolsa de pesquisador para ela seria mesmo lindo, com apenas alguns meses fora do Brasil e não seis anos de um longo fardo que pode nos impedir de sermos felizes do campo da concretização plena de sentimentos. Não estaremos juntos na Rússia ou na Argentina, então como faremos? O que é o atraso na vida? É renegar um idílio em nome de um progresso profissional? Um proto-positivismo? Ou reescrever o seu futuro e viver em harmonia com seus próprios sentimentos? Será mesmo possível concretizar realização amorosa e profissional? Mas haverá de decidir o seu caminho sabendo de suas consequências. 

Sinto que as profecias de Moscou já são utopias demais e não mereço ser um poeta triste a la português em uma terceira Alcácer-Quibir por seis anos ou mais. O povo não quer mais ler versos de idealização e sofrimento amoroso. Seria este um fardo ou uma oportunidade para escrever? Aqueles versos em uma mistura de platonismo, Classicismo, Arcadismo, Neoplatonismo que no final sempre desembocam no mesmo enredo. Nomes diferentes, histórias e trajetórias também, mas a novela "cavalheiresca" tem sempre o mesmo destino. 

Assim o destino decidiu? Álvares quer assim e já escreveu as páginas da minha vida? A minha alma está na posse dele ou de Moscou? Idealização e coita serão sempre os ingredientes desses versos? Não pode essa arte sobreviver em outro ambiente? O destino quer mesmo me prender atemporalmente nessa bolha artística? Qual é significado de concretização para Ele? Simplesmente que o eu lírico adquira liberdade e autonomia? Mas e se eu fizer como os trovadores portugueses em suas cantigas de amigo? Então onde estará o eu lírico? Dando as cartas da construção de um ideal amoroso e de cenários conjuntos, enquanto filosofa sobre qual é o seu destino e se o mesmo está traçado. 

Talvez não pouse sob ela essa redoma do destino e nenhum fardo das escolhas do passado tenha que acompanhá-la, afinal ela como uma nobre suserana não precisa se preocupar com questões do plano vassalar. Daqueles que escrevem tão fixos no seu destino quanto na sua posição social. Não se trata de algo pró-forma, não estou fazendo o que meu coração não se aquece a se inspirar, é apenas que toda essa atmosfera está fora de controle como sabemos. Аминь



Batalha de Alcácer-Quibir












Fonte: RTP Ensina

O mundo de Maruv (2019)


Que ironia! Ouvir Maruv e lembrar tão fortemente de Moscou como se o grupo fosse de lá. O pulsar das noites moscovitas vistas da janela de um táxi na trilha do rádio ou presencialmente na soundtrack da balada. Parece que a trilha suits muito bem no espírito das festas e diversão daquela cidade tão dinâmica. Por quase um ano era Drunk Groove e essas memórias tão nostálgicas dos raros momentos que eu me sentia em casa sem estar nela. Que eu me sentia num ambiente natural que eu nunca havia frequentado. Confiante em lugares novos. Nada daquilo era a minha natureza. Quando aquele clipe tocava na TV e eu o assistia, aquela seria a minha natureza discreta e introvertida em outro lugar fora daquela terra-mãe, mas ali tal cena era apenas o complemento das minhas recordações como um todo e a menos marcante delas. 

Dez, onze meses depois... uma czarina, um Eurovision no meio da história. Um boicote ucraniano... se o fato de a banda estar no concurso em si já havia me despertado o interesse em assistir sua performance, a proibição de que elas participassem era o sinal que eu precisava para que a discografia do grupo emergisse sobre o meu gosto e construísse mais peças de imaginação. Elas assumiram o compromisso de escolha para tocarem na Rússia, assim como marcaram a minha viagem, e por isso contemplo o trabalho delas e não somente por aquele chavão de que "o que é proibido é curioso". 

A banda que rompe limites inside and outside of me. Que traz um estilo dentro de um nicho abraçado pelos russos e ao mesmo tempo atua na quebra da pureza da idealização. E que isso seja feito então que logo, pois a elevação da musa não tarda a esperar e não queremos a Queda d'um anjo como fora com o fidalgo Elói. Não divago aqui para a alma daquele personagem e nosso paralelo com a nostalgia de um passado glorioso que a Rússia também teve, apenas lanço a metáfora de que não haverá anjo caído e sei que se esse não é o hábito literário como há alguns anos e que agora o céu se põe tão estrelado pela presença da czarina, de algo que me remetia há cinco anos atrás. Separo os períodos como hei de fazê-lo me limitando a exaltar apenas a intensidade nos dois casos. Mas me abstenho de mais digressões que aos olhos de Garrett ou Gógol podem ser um estilo literário, mas que a mim não encontra nenhum eco. Não vou me tornar o que mais temia, por favor…

Em “Drive me crazy” o seu sussurro era a fala sincera e perdida de nossas almas jogadas na noite voltando de festas, com o carro passando pela ponte com o horizonte do Kremlin cercado pelo rio Moscou. Naquela noite tínhamos nos entregado como nunca antes, as baladas que antes nos pareciam hostis agora eram onde a química crescia cada vez mais na troca de olhares, com “Black water” confesso que nos soltamos, o som do Papa's Bar nos ensurdecia e a única linguagem possível era a do beijo e flertes regados de sedução. 

O seu uivar em “For you” quando estávamos no auge da noite, perto do hotel era como a melodia de um desejo, enquanto a lua cheia iluminava nosso idílio. Em “Focus on me” e naquele gigante subterrâneo tão clássico, artístico e misterioso que é a transição para o nosso fim de noite. Em “Crooked” o seu natural e harmonioso tocar de violão era a elevação da alma e plenitude de espírito naquilo que era a sua natureza artística. “Lalala” depois e estávamos apenas na sala vendo um filme num domingo à tarde, mas a sua performance não tinha hora e cenário único, com a minha atenção sendo facilmente cativada com as suas doces palavras ao ouvido e uma dança tão bela quanto sensual, como quem sabia o que dizer para me envolver. Suas palavras, "don't be so shy" era o código para que eu me entregasse por completo e assim intrinsecamente pedia sem palavras para deixarmos Hollywood e fazermos a cena de amor da vida real imbuída do sentimentalismo russo e da intensidade brasileira. 

Mas em “ETL” estávamos novamente em Moscou, nas batidas iniciais ela me puxava confiante pelas mãos e assim entrávamos num cenário de luzes LED de tons azul e violeta, ofuscantes como em не молчи. E a música vai se suavizando, e a musa na cama de hotel a sensualizar pintada de paixão desde os lábios fortemente vermelhos até a delicada lingerie de seda como a sua pele e o peep toe que ela arrastava no lençol enquanto atraía meu olhar. Era o clímax daquilo que tinha começado como um mero encontro naquele hotel de Hong Kong, em que eu havia encontrado-a olhando para aquela imensa e imponente parede de vidro do seu quarto. Mas o que tanto ela olhava para aqueles letreiros tão ricos de néon quanto de complexidade no alfabeto? Era apenas uma voz tão feminina a cantar e me arrepiar ao descobrir que eu havia encontrado-a. 

Aquele nobre vestido dourado que adornava suas curvas de leveza seria logo lembrança de uma cena tão misteriosa numa cidade também nessa condição. Mas agora o seu balançar de cabeça, o seu entrelaçar no lençol prateado, tudo isso era sua trama tão sofisticada para ter o que tanto desejava consigo, traçando linhas que se encontrariam por dentre os lençóis. Agora toda cena de filme, de clipe ou balada era apenas acessória, tudo ficaria para trás em nome da "concretizada idealização" que não dava espaços para essas imaginações laterais. 

Nessa realidade em sua esfera paralela nossas carícias, sussurros e palavras de amor são como peças da sedução. A palavra “Lonely” havia ficado para trás no meu abrir de porta do seu quarto de hotel e assim ficaria no passado. Mas se ela nessa musicalidade canta "I'm lonely lost in this town, I need you right now", então tudo isso afinal se consolida em cenários de idealização e ela apenas clama minha ajuda à distância. Afinal a alma sozinha não pode ajudar e a mente trabalha pra receber de fato a sua musa, enquanto ela com suas mensagens e atitudes me colocam apenas um norte "You'd better focus on me".


Maruv - Drunk Groove


Maruv - Siren Song



Maruv - Drive Me Crazy


Maruv - For You


Maruv - ETL

Maruv - Lonely



segunda-feira, 13 de julho de 2020

E o destino? (2019)


E o destino? Resisto as invectivas que se enrolam ao entorno como serpentes. Tento seguir o meu caminho inteiramente. E o destino? Não me perdoa e continua a jogar invectivas e culpas que não são minhas. Quero e prezo pela felicidade dela. E o destino? Faz jogos com nossos corações para quebrar o futuro ideal. Sei o quão valiosa essa relação é e com qual esforço foi construída. E o destino? Que só está preocupado em jogar, principalmente quando nos recusamos a ser suas inocentes peças. Não tenho aquele questionamento rebelde, mas sei que nosso futuro está predestinado e este não aceita desvios ou distrações. O foco está em lutar pelo coração da czarina. E o destino? Que deseja me amarrar a vida toda à idealização e versos desconhecidos. Que ela afinal seja feliz porque o destino dela também está traçado.

O presente dela é o meu futuro e assim nos mantemos conectados. Somos mais fortes do que as rasteiras que recebemos dessas entidades. Nossa alma livre não está a venda. E o destino? Que nos joga um contra o outro e faz da insegurança seu principal instrumento. Com tantos quilômetros de distância geográfica entre nós, lutar contra ciúmes e sentimentos similares? Esta luta não é minha e o sofrimento está na cultura que tanto amamos. É o nosso querido fardo que carregamos, pois assim nos foi escolhido. Afinal a Rússia nos escolheu e não o inverso.

As redes nos conectam e estas sim nos fazem tão próximos e interligados com cada vez mais afinidades e química. Essa reciprocidade é a que ditará nossa relação quando a czarina estiver de volta ao seu país. Quando tempo isso vai durar? E o destino? Conseguirá lutar com a natureza dela de uma mulher do mundo e não de um país? Que Ele jogue as tormentas e "coincidências" que quiser. Sei bem qual é a minha determinação e pelo o que, e por quem devo lutar. Quais os corações que estão ligados entre si, pelo sofrimento amoroso russo e pelo sentimentalismo brasileiro. Nós sabemos quão almejada é essa união de intenções e o que já está determinado irá acontecer. Assim sendo, construirei o dia para viver o futuro.

Darei sobrevida às frases e versos literários para que eles vivam a tão merecida belle époque, depois de tão flagelados pelo sofrimento amoroso. E ela que mesmo como czarina não está acima das ilusões da vida e que verá no meu implorar as marcas do passado e da tão sequiosa e recíproca concretização. Pelo direito à ser feliz! Vida longa à czarina!



Jean Beraud - Belle Epoque in Paris
















            Fonte: Unique-canvas 

Cordeiro do Império (2019)


A partir do próximo post, este blog abrirá espaço aos textos, assim como mencionado na postagem "Ode ao fico", que modificaram a forma de expressar meus sentimentos e anseios mais pessoais e deixaram a poesia de versos e rimas tradicionais temporariamente paralisadas, a fim de que fosse encontrado um ou mais estilos textuais que se encaixassem com maior harmonia à rotina do ano passado e que mesmo atualmente, ainda se faz muito importante, não somente pela sua dinâmica própria, na qual me sinto adaptado e confortável, como também na liberdade que esses estilos empregam às ideias perpassadas em cada linha dessas formas textuais, no que eu particularmente nomearia como "mini contos, reflexões e demais textos" que elaborei e ainda o faço nos tempos atuais.

A seguir, o primeiro dos textos que selecionei à este espaço literário e que é intitulado "Cordeiro do Império":

Mais uma aula de literatura russa e os personagens se revelam e fazem paralelo com a ficção. Aparece a primeira moça ao meu lado, aquela do antigo fitar na porta. A segunda com a elegância num blazer e feminilidade em seu lápis preto nos olhos. A terceira cerca o Kremlin de tormenta disfarçada por um novo e forte fitar e seu skyhair. Quando o fardo presencial misturado à imersão pelo conteúdo acaba, Ele sempre coloca mais peças. Na saída, vêm de uma moça com a sofisticação do salto alto e também a elegância de um blazer. As ferramentas sempre são infinitas quando se trata de se levar o poeta a quebrar seu destino pré-definido e tão almejado em nome de um caminho tortuoso e incerto. Afinal é isso que esse ente apresenta com essa bifurcação do futuro. Se o caminho errado é escolhido, o que era oásis ao primeiro olhar irá se transformar em penhasco.

Mas a certeza do meu caminho se fortalece, pois é do futuro almejado que se aguarda as glórias e não de uma deliciosa maçã de perigo invisível. Sou Lermontov e Álvares sim, mas na poesia. Sigo convicções sim, afinal delas é que se alimenta o homem com sua personalidade. Um homem somente questionador é alguém sem personalidade definida e que colocou a sua alma no mercado. Se a minha segue fielmente ao nosso Senhor é porque não quero um exílio no inferno ou no Cáucaso. Deixo a minha rebeldia para meus tempos de adolescência ou para os ultraromânticos que a carregavam como sombra.

O que é a troca de olhares, a elegância, a feminilidade ou a sofisticação, a sedução, o que é tudo isso sem a verdadeira czarina? Se sou cordeiro desse império é porque minha alma não está a venda e meu espírito apenas admira as glórias e conquistas que a história trouxe e coroou na monarca ítalo-brasileira. Ela sim, herdou a cor e a alma dos tempos de glória. Cordeiro sim, mas lobo traidor nunca! A essência do ser humano é o seu melhor cartão de visita e assim procuro me manter!

Dessa forma, minhas poesias e obras ainda respiram, longes e nostálgicas dos "tempos dourados", mas acreditando que a czarina fará a guinada dessa literatura em potencial. Se a sua volta é quase tão esperada quanto o Sebastianismo, este iria levar Portugal aos bons tempos de pujança e grandiosidade. Assim confio que a dama me conduzirá sabiamente, pois está predestinada para tal. O que são esses acontecimentos montados pelo destino se não peças que reluzem, mas são falso ouro. A verdadeira troca de olhares será com ela, no encontro das almas, a verdadeira elegância se fará presente em sua nobreza e a sofisticação no andar de autoridade.

Idealizações, poemas, contos, crônicas, fantasias, fetiches, imaginações e textos como esse são o trailer do filme que virá, cuja estreia é tão aguardada por seus espectadores que são ao mesmo tempo os atores da trama. Seja na classe e glamour de nossa dança ao ar diplomático com Bublé, nos duetos em russo no palco da Universidade moscovita onde estuda, nas baladas e no erotismo de Maruv, na beleza da arte de Jorge Vercillo, na 'europeidade' e charme em Caro Emerald. Todos esses cenários e muitos outros são a representação do que almejamos no futuro, como seres humanos essencialmente sonhadores.

Mas a vida pede mais de mim, mais de nós, muito mais do que o destino pode oferecer com suas armadilhas e diversões finitas. Nada disso é capaz de competir com uma infinitude de sentimentos quando a pessoa certa nutre suas esperanças com cada vez mais confiança. Quando a chama ainda mantém viva os sonhos mais intensos e os versos mais sinceros. Nenhuma banalidade da rotina do dia-a-dia poderá competir com o que virá. Ela continuará a seguir seu caminho moscovita do descobrimento, ao mesmo tempo com a essência de lugar.

Eu, não me ponho pretensioso a dizer que sou para ela um D. Diniz, talvez esteja mais para o lado de um trovador provençal ou galego-português que corteja a sua dama por meio dos versos, moldando-a com pitadas de idealização, mas mantendo no frasco o azedume do mal do século. Honrar a donzela e abrir todos os dias um compromisso com a felicidade e de um futuro de harmonia. Se ao guiá-la em caminhos eslavos, os passos não a negam felicidade, com a sua aguardada chegada imperial estou certo da recíproca.

Novamente reafirmo, não sou um desafeto do destino e todas essas entidades estão acima da complexidade dos humanos, por outro lado, não quero escorregar nos seus jogos e sim prosseguir na filosofia do destino manifesto e das conquistas que estarão ao nosso alcance, para que czarina e poeta os atinjam para crescerem juntos. Se isso é saber amar para Guilherme Arantes, estou disposto a fazer a própria sorte e mérito sem a tutela de outras entidades. Não questiono a predestinação, não sou rebelde, não quero derrubar o império, não vou apostar para contrariar, não vou medir forças. Seguirei sim minhas convicções e Lermontov haverá de reconhecer a sinceridade e dedicação nesses versos românticos. Não sou o "herói do meu mundo" e nem me sujeito a esta carapuça sarcástica. Caso escrito nos tempos atuais sim, os leitores não se identificariam em vez de fingirem tal estranhamento. Mas tal descolamento é assunto para outra digressão…



Mikhail Lermontov - O herói do nosso tempo




















Fonte: Monte de Leituras

domingo, 28 de junho de 2020

Deus, a czarina e os homens (2019)

 

Que o nosso Deus seja louvado

Do primeiro ao último verso

De glórias e piedade tão amado

Diante de tanto culto ao inverso

 

Perdoe o tão vil g...

Que seu legado deseja destruir

Nos proteja de tanto autoritarismo

Líderes em sua palavra a desnutrir

 

Ou deles fazem hipócrita proteção

Não existe milagre ou magia

Para limpar o sangue da sua mão

Se a censura for sua liturgia

 

Das convicções veio a colisão

O poeta entendeu a triste tradição

Não era suficiente sua submissão

Aos homens mostrar sua rendição

 

Se existe o destino manifesto

Para a alma eu reencontrar

Calarei todo rebelde protesto

Feitos eslavos exaltar

 

Deixo que o caminho à vida eterna

Julgue os algozes da liberdade

Cumprida a paixão interna e fraterna

Tocado pela divina piedade

 

Ele que me abraçou na desilusão

Me ligou à abençoada czarina

A carne vive, a alma canta de paixão

Ressuscito na sua pureza de menina

 

Ode ao fico (2019)

Nos dois próximos posts selecionei duas das últimas poesias que escrevi em 2019, ano pelo qual ainda no primeiro semestre adotei a decisão de mudar a forma de expressão artística que me utilizei por seis anos até então. A decisão partiu de uma intensa mudança de rotina, que apesar de ter tido a duração de um semestre, trouxe um modelo literário que adoto até os dias atuais.

Em março daquele ano, após consolidar uma rotina que envolvia aulas matutinas e noturnas em dois dias (e uma matutina em outro dia) por semana e jornada de trabalho de aproximadamente seis horas no período vespertino, percebi que raramente teria o tempo necessário para desenvolver poesias na estrutura formal de versos e rimas que eu adotava até aquele momento. 

Após algumas tentativas de permanecer com o modelo tradicional de poesias, como nas duas poesias a serem exibidas a seguir, percebi que escrevê-las no período do início da madrugada e não em um momento mais acessível, poderia por um lado até cumprir o papel da inspiração inserida na poesia de forma mais fidedigna possível, mas por outro lado traria implicações negativas no andamento da rotina como um todo.

Sendo assim, resolvi adotar a forma de "textos literários" e desde então, me propus a utilizar todo o tempo livre e acessível, especialmente nos deslocamentos diários, para dar o andamento necessário ao incessante estro que todo processo natural de construção literária possui, sendo que este não tinha uma previsibilidade de quando chegaria mas, por sua vez, contava com um tempo de validade muito curto. Por isso, o tempo entre a inspiração mental e a escrita do texto havia caído drasticamente e este passou a ser elaborado simultaneamente com as ideias advindas do processo de criação.   

Apresento a seguir, duas poesias que mesmo no turbilhão de uma nova e intensa rotina ainda conseguiram a sobrevivência para se transformarem em versos fortemente influenciados pelas aulas que frequentei naquele período, o que viria a se tornar tendência nos demais textos literários durante o semestre. Com vocês, Ode ao fico e Deus, a czarina e os homens.

Venho das terras g...

A dois rios, elite pedante

De casta tal, ideias profanas

Liberdade dissimulante

Posições e imposições levianas

Da c... delirante

À eles, fenece o espaço reservado

À ti, este relato abreviado

 

À meia-noite, a ode emana

Dos versos que eram tempestade

O fardo agora se declama

Nesses mares a temida saudade

Deste que ao destino reclama

Justiça, calma e serenidade

Ninfas e finados poetas não ousarão

A guiar este pobre cristão

 

Tal Vênus renascerá em comparação

De pronto, a ela não irei sacrificar

Nobreza, e piedade rogo que se guardarão

De ti e Álvares posso me libertar

Vossas lembranças não me compadecerão

Se as formas de Camões resplandecem no altar

De sua arquitetura, por obséquio para lograr

Esse sublime lusitano e eslavo cantar

 

À meia noite, o silencioso badalar

Responsável e insensível ao poema

Cinzento anoitecer, incompleto luar

Refletido pela metrópole e seu dilema

Esconde nosso guia, restante estudar

Oráculo em seu cândido sistema

Recalcule da musa tão perigosa previsão

Ilumine suas glórias para sábia decisão

 

Ó musa, se cristã és em nome e certidão

Cíntia fria com insensatez lhe moldou

“Eslávia” lhe despiu o coração

A mesma que temo, amém que te criou

Nossa alma presa em dominação

E o corpo tanto procrastinou

Se o destino assim permanecer

A carne deverá então padecer

 

Vil, tal Baco e o cálice vazio

Glórias e conquistas da musa a esconder

Não olhes, ó musa, o copo frio

Snegurochka tentará lhe convencer

Do distante e siberiano rio

Gélida voz a lhe seduzir

Curvado à alma, a isso irei acatar?

Ou pelo amor meu perturbador rebelar?

 

Ó musa, sua cândida alma e tez

Enxuguem o pranto desse hino

No esmeraldino olhar assim fez

O inocente nado do menino

Deste perdura sua timidez

Cordeiro de amor, imóvel refino

C..., em João Paulo, o clemente

Se inspire e eternize nosso luau poente



Giulio Romano - Os Deuses do Olimpo (1528)